quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

SEXUALIDADE




SEXUALIDADE




Em O Livro dos Espíritos lê-se na pergunta 200: "Tem sexos os Espíritos?" Respondem os imortais: "Não como o entendeis, pois que os sexos dependem da organização. Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na concordância dos sentimentos".

A energia sexual é inerente ao ser espiritual, se estruturando com o passar do tempo na longa viagem evolutiva do princípio anímico. Desde "o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo ", o potencial sexual vem se desenvolvendo pelos reinos da Natureza Cósmica.

Desse modo, está no Mineral desde a intimidade do átomo nas forças de interação atômica, até a força gravitacional sustentando os sistemas planetários na composição da harmonia das galáxias. No Vegetal, essa força se apresenta mais expressiva mediante a polarização sexual, quando o princípio germinativo é permutado através do vento, dos insetos etc.

Avançando para o reino Animal, a sexualidade ganha novas dimensões, exteriorizando-se na sua feição instintual com os caracteres morfológicos e funcionais que consagram o macho e a fêmea.

Já no Homem, a estruturação da energia criadora alcança nova amplitude ao se manifestar, de vez que ela deve estar conectada à razão, às emoções e à moral, a fim de atingir suas finalidades sublimes.

Portanto, a energia sexual incorpora novos atributos à medida que jornadeia da atração-mineral para a sensibilidade-vegetal, e desta ao instinto-animal, a fim de desaguar no sentimento-hominal.

No espírito encarnado, portanto, as forças sexuais se mostram bem complexas nas suas funções :
a) A reprodução: através dela, o sexo assegura a perpetuação da espécie, a estruturação do corpo físico, a constituição da família, a viabilização da Lei da Reencarnação.

b) A permuta de energias entre os parceiros da comunhão sexual, seja física ou espiritual.

Pela troca energética entre o casal, a sexualidade assume manifestação mais refinada, pois que ela se exterioriza de forma sutil como alimento magnético de sustentação das almas que se enlaçam num relacionamento sexual baseado na confiança e na fidelidade, no amor e no discernimento.

É nessa circunstância que se compreende a responsabilidade recíproca daqueles que assumem um compromisso afetivo, tendo em vista a presença do circuito de forças fluídicas que se estabelece, quer a comunhão afetiva alcance a dimensão física, quer se limite apenas à esfera psíquica, tal como sucede nas relações amorosas em que, por algum motivo, não há o sexo propriamente dito.

Possível, portanto, se torna compreender a precariedade das relações estritamente genitais, posto que se assenta somente no corpo físico, deixando um grande vazio para as almas, a despeito de atingirem o orgasmo; sentem o prazer biológico, porém não experimentam o êxtase do amor, manifesto na complementação magnética plenificadora dos seres.

Fácil também é perceber o desperdício das energias de vida pela masturbação; os prejuízos da prostituição, dos encontros promíscuos, do sexo sem respeito.

c) A canalização da energia criadora para obras beneméritas do conhecimento e da estesia, da assistência social e do amor, na ampliação e concretização do progresso da humanidade. Quando por qualquer motivo, a energia sexual não dispõe da possibilidade de expressão pela via genitálica, ainda assim ela não se extingue, nem desaparece.


Esse potencial criador pode ser bloqueado pela castração indevida e gerar distúrbios de diferentes matizes para o ser, todavia, se canalizado adequadamente, é fator de saúde integral, incrementando a evolução do Espírito. Por isso, a alma que vive em abstenção sexual pela castidade com equilíbrio pode e deve sublimar a sua energia procriadora para outras modalidades de expressão criativa, através da sua orientação para as ações no campo da cultura e da arte, da intelectualidade e do sentimento, da filantropia e da caridade, contribuindo para a expansão do bem, do belo e do bom na Terra.

A energia sexual jamais poderá ser aniquilada, seja por imposição religiosa, seja por trauma psicológico, podendo, contudo, ser transmutada agenciando as grandes construções do Espírito na escalada da evolução sem fim.

A Doutrina Espírita apresenta a sexualidade despida da conotação religiosa dogmática que consagrou o sexo pecaminoso, sujo, proibido e demoníaco; todavia também não legitima a postura da sociedade contemporânea que forjou o sexo objeto de consumo, libertino, vulgar.

A perspectiva espiritista é da energia criadora, que necessita estar balizada pela razão e sentimento, pelo respeito e entendimento, pela fidelidade e amor, a fim de engendrar a plenitude e a paz. Um sexo para a vida, e não uma vida para o sexo.
Emmanuel sintetiza com sabedoria o pensamento espírita: -"Não proibição, mas educação. Não abstinência imposta, mas emprego digno com devido respeito aos outros e a si mesmo. Não indisciplina, mas controle. Não impulso livre, mas responsabilidade.

Fora disso é teorizar simplesmente, para depois aprender ou reaprender com a experiência. Sem isso, será enganar-nos, lutar sem proveito, sofrer e recomeçar a obra de sublimação pessoal, tantas vezes quantas se fizerem precisas, pelos mecanismos da reencarnação, porque a aplicação do sexo, ante a luz do amor e da vida, é assunto pertinente à consciência de cada um".

O Espiritismo resgata a visão crística da sexualidade bem definida no célebre encontro com uma mulher: -"...disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. E na Lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes? Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: -Aquele que dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro que lhe atire a pedra.

...Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor. Então lhe disse Jesus: Nem eu tão pouco te condeno: vai, e não peques mais".
Na atualidade a proposta espírita é a da compreensão amorosa e educativa do ser humano. Nem apedrejamento, nem conivência culposa; nem julgamento arbitrário, nem a omissão da indiferença.

Só o amor desvelado por Jesus é suficientemente forte para controlar e direcionar o impulso sexual, na edificação da felicidade permanente. Cristo ao indagar, por três vezes, se Pedro O amava, nos permitiu refletir simbolicamente sobre o amadurecimento do nosso potencial afetivo-sexual. Didaticamente situaríamos em três níveis esse crescimento:

a) o primeiro traduz um amor infantil, caracterizado pelo apego, desejo e posse; é a paixão egóica; o sexo é instintivo, egoísta, "para mim";

b) o segundo revela um amor adulto, que experimenta o carinho, a solidarização; o ego está bem estruturado; o sexo é sentimento, partilha, "comigo";

c) o terceiro descortina um amor sábio, expressando desapego, renúncia, sacrifício; há a transcendência do ego; o sexo é sublimação, doação, "a partir de mim."

Daí precisarmos amar um pouco mais a cada dia, para lograrmos cristificar nossa sexualidade.


Embora as manifestações do instinto sexual se façam no corpo físico, o seu controle é atributo do espírito, através da mente. Eis o que nos fala André Luiz: "O instinto sexual vem das profundezas da vida, quando agrupamentos de mônadas celestes se reuniram magneticamente umas às outras para a obra multimilenária da evolução". A sede real do sexo não se acha, dessa maneira, no veículo físico, mas sim na entidade espiritual, em sua estrutura complexa.

O sexo é, portanto, mental em seus impulsos e manifestações, transcendendo quaisquer impositivos da forma em que se exprime..." (Evolução em Dois Mundos, 1ª parte; cap. XVIII) A Doutrina Espírita nos ensina que o casamento, a "união de dois seres" representa "um progresso na marcha da Humanidade". (O Livro dos Espíritos- questão 695) Na poligamia, entendida como a união de uma pessoa com duas ou mais e, portanto, englobando a prostituição e o sexo livre, "não há afeição real, mas apenas sensualidade". E o casamento deve se fundamentar na "afeição dos seres que se unem". (O Livro dos Espíritos-questão 701)

Emmanuel nos adverte que "relações sexuais, no entanto, envolvem responsabilidade". (Vida e Sexo, cap. 19) André Luiz nos ensina que "a monogamia é o clima espontâneo do ser humano, de vez que dentro dela realiza, naturalmente, com a alma eleita de suas aspirações a união ideal do raciocínio e do sentimento..." (Evolução em Dois Mundos, cap. XVIII)

Com base nesses ensinamentos, podemos concluir que a condição ideal para a prática equilibrada do sexo é numa união permanente (casamento) e responsável e que tenha como laço firme, a unir o casal, o sentimento. Para a prática equilibrada do sexo, é indispensável respeitar as leis biológicas e morais que regulam a vida.

É, portanto, necessário respeitar a finalidade de cada órgão, determinada pela sabedoria do Criador, utilizando, nas relações sexuais, apenas aqueles órgãos que tem essa finalidade. Além disso, o sexo deve ser um complemento do amor, e não o objetivo maior de uma união. É necessário acrescentar que a prática do sexo, de maneira equilibrada, requer respeito e consideração, de tal forma que uma pessoa não use outra como objeto de seus desejos sexuais. Não vale, portanto, o entendimento de que entre quatro paredes tudo é válido.

Allan Kardec escreveu: "Mudando de sexo, poderá, então, sob essa impressão e em sua nova encarnação, conservar os gostos, as inclinações e o caráter inerente ao sexo que acaba de deixar. Assim se explicam certas anomalias aparentes, notadas no caráter de certos homens e de certas mulheres". (Revista Espírita, 1866) Emmanuel afirma: "Em circunstâncias numerosas, o pretérito pode estar vivo nos mecanismos mais profundos de nossas inclinações e tendências". E mais "Através da poligamia, o espírito assinala a si próprio longa marca em existências e mais existências sucessivas de reparação e aprendizagem, em cujo transcurso adquire a necessária disciplina do seu mundo emotivo". (Vida e Sexo)

O relacionamento conjugal é influenciado por diversos fatores, entre eles os de natureza sexual. Verdadeiras crises surgem na vida a dois por falta de um ajustamento sexual adequado e isto acontece frequentemente por desconhecimento dos fatores psicofisiológicos que influenciam o orgasmo.

O estudo não mostrou diferença estatisticamente significativa entre católicos, evangélicos e espíritas, com relação à influência dos fatores pesquisados. Esses dados são do interesse do Movimento Espírita porque são causadores de muitos conflitos conjugais, com reflexo na família como um todo. Essas pessoas, frequentemente, buscam as casas espíritas na esperança de encontrar explicações e solução para tais problemas. E é ideal que o Espiritismo lhes proporcione os esclarecimentos adequados, o consolo e os ajude a harmonizar o lar.

Por outro lado, com estudos, palestras, seminários e outros recursos podem as casas espíritas proporcionar aos frequentadores e pessoas em geral conhecimento mais detalhado sobre a sexualidade e os diversos fatores de ordem fisiológica e psicológica que interferem no desempenho sexual, com os objetivos de manter a harmonia no lar e prevenir os conflitos que, muitas vezes, levam à separação dos casais, com prejuízos para eles mesmos e para os filhos.

Chamamos a atenção para o fato de 20% das mulheres terem que fingir que sentem orgasmo, para evitar problemas com o marido ou parceiro. São duzentas mulheres em mil que têm vida conjugal. É um número muito alto. E é um sacrifício muito grande durante um tempo tão longo. Com mais esclarecimentos sobre os aspectos fisiológicos e psicológicos da sexualidade da mulher e com uma melhor educação sexual, tais sacrifícios poderiam ser evitados e medidas adequadas poderiam ser adotadas visando ao ajustamento sexual.

Se a prática equilibrada do sexo começa com a disciplina mental, os desvios resultam da rendição da mente às manifestações do instinto sem que a pessoa atente para as leis biológicas e morais, adquirindo condicionamento e viciações, dos quais têm dificuldade de se libertar. E isso é tanto mais sério, quanto menos adiantados os Espíritos e quanto mais dominados pela matéria, que lhes aguça os apetites inferiores. Tal situação é agravada pelo egoísmo que facilita as ações do homem em franco desrespeito ao semelhante, usando-o como objeto de seus desejos inferiores.

Também contribui para esse comportamento contrário às leis divinas o atraso moral de muitos Espíritos, no campo do sentimento, que os torna insensíveis ao sofrimento do semelhante, especialmente da mulher. Outros agravantes são as influências que essas pessoas sofrem de espíritos atrasados, igualmente dominados pelos desejos inferiores, que os induzem a tais comportamentos, explorando as suas tendências inferiores, com o propósito de torná-los insaciáveis em seus desejos.

A adolescência é o período que se estende desde a puberdade - 12-13 anos, até atingir o estado adulto pleno - 22-25 anos. É variável entre os pesquisadores da personalidade juvenil, em virtude das diferenças na idade emocional e mental nos adolescentes. Período da existência que se caracteriza por transformações acentuadas de comportamento, acompanhando as mutações físicas, apresenta, muitas vezes, dificuldades de relacionamento com os pais e problemas complexos no caráter e no sentimento, desafiando orientadores e psicólogos.

12.1 — Sexualidade e reencarnação. Impulsos sexuais na infância
Somente com a chave da reencarnação é possível explicar os problemas intrincados da personalidade humana, principalmente nas fases da infância e da adolescência. Na infância, o Espírito reencamado encontra-se na situação de hipnose terapêutica — sono profundo, do qual vai acordando, gradativamente, com o passar dos dias e dos anos. Este sono é tão profundo para fins de renovação que, mesmo na fase da adolescência, ele se repercute, pois o Espírito ainda não se revelou com todas as suas características, no processo da existência humana.

Todo Espírito reencarnado, a partir dos primeiros dias de vida, vai readquirindo, gradativamente, sua personalidade real — um enorme acervo de emoções, instintos e paixões, que construiu por si mesmo nas existências passadas. Explica-nos o lúcido Espírito Emmanuel: "Toda criatura consciente traz consigo, devidamente estratificada, a herança incomensurável das experiências sexuais, vividas nos reinos inferiores da Natureza."

A nossa sexualidade, hoje, é o resultado de milênios de experiências vivenciadas — não somente na condição humana, mas também nas fases da vida animal, incorporadas, século a século, como patrimônio imperecível, na zona instintiva do ser. Não se pode observar e analisar uma criança ou um adolescente tão-somente pelas suas experiências na atual reencarnação, pois, as influências recebidas agora são apenas pequena fração que vai somar-se ao grande celeiro de recursos do Espírito, acumulados em milênios. As influências dos pais e educadores, hoje, são importantes, na medida em que trabalham por recuperar, reeducar e iluminar o campo do caráter e do sentimento da criança e do jovem.

A criança, ao nascer, já traz em si uma riqueza imensa de emoções, impulsos sexuais e paixões, muitas vezes em situações infelizes, que irão emergir, ao longo dos anos, de acordo com o desenvolvimento do organismo físico. É o que nos fala Emmanuel:"(...) surpreenderemos na criança todo o equipamento dos impulsos sexuais prontos à manifestação, quando a puberdade lhe assegure mais amplo controle do carro físico".

12.2 — Os problemas psicológicos do adolescente
O Espírito, ao sair da fase infantil e penetrar na adolescência, passa a apresentar mudanças bruscas e imprevisíveis no seu comportamento, em virtude do fardo de estímulos sexuais que já carrega em si mesmo, como herança de si próprio, oriunda de séculos de experiência. Na fase da adolescência, o organismo passa a dar melhores condições para a manifestação mais profunda da alma. Começa a funcionar com mais intensidade o instinto sexual. A libido, de que fala a Psicanálise, não é nada mais do que a carga dos impulsos sexuais arquivados no Espírito imortal.

Como o maior percentual de Espíritos da Terra se acha ainda imperfeito, é lógico que, ao renascer na vida física, cada ser é obrigado a manifestar as qualidades e imperfeições que traz em si mesmo. O autor de "Vida e Sexo" esclarece: "(...) é impelido naturalmente a carregar o fardo dos estímulos sexuais, muita vez destrambelhados, que lhe enxameiam no sentimento, reclamando educação e sublimação".

Os problemas psicológicos de solução difícil nos jovens adolescentes são o resultado das transgressões morais e dos abusos sexuais de vidas passadas, que naturalmente surgem no hoje, requisitando reeducação, a fim de aprender a dirigir suas próprias emoções e desejos.


As recordações profundas da alma que são arquivadas no mundo mental têm o comando de uma glândula muito importante no corpo espiritual — a epífise, ou glândula pineal. A ciência terrena pouco sabe ainda acerca das funções desta glândula. A epífise é um pequeno corpo glandular, situado na parte central do cérebro. Acredita-se que sua função seja a de frear a ação dos órgãos reprodutores na fase infantil, perdendo tal função, com a normalização da atividade sexual na criatura adulta.

Para a Doutrina Espírita, a epífise tem funções importantíssimas, ainda desconhecidas pela própria Ciência humana. A glândula do corpo físico é dirigida pela correspondente do corpo espiritual. O organismo físico é uma cópia imperfeita do corpo espiritual. Ensinamentos maravilhosos recebemos do Espírito André Luiz, nesta dissertação sobre a epífise: "É a glândula da vida mental. Ela acorda no organismo do homem, na puberdade, as forças criadoras e, em seguida, continua a funcionar, como o mais avançado laboratório de elementos psíquicos da criatura terrestre. (...) Ela preside aos fenômenos nervosos de emotividade, como órgão de elevada expressão no corpo etéreo."

A epífise, como centro importante do corpo espiritual, é ligada à mente, através de forças eletro-magnéticas e funciona como válvula de escapamento do celeiro de emoções, instintos e paixões, registrados ordenadamente no arquivo sublime da sub-consciência. A retomada plena da sexualidade dá-se mais ou menos, aos quatorze anos, apresentando sintomas íntimos os mais variados por parte de cada jovem. O autor de "Missionários da Luz" descreve as funções da epífise:

"Aos quatorze anos, aproximadamente, de posição estacionária, quanto às suas atribuições essenciais, recomeça a funcionar no homem reencarnado. O que representava controle é fonte criadora e válvula de escapamento. A glândula pineal reajusta-se ao concerto orgânico e reabre seus mundos maravilhosos de sensações e impressões na esfera emocional. Entrega-se a criatura à recapitulação da sexualidade, examina o inventário de suas paixões vividas noutra época, que reaparecem sob fortes impulsos. (...)

Na qualidade de controladora do mundo emotivo, sua posição na experiência sexual é básica e absoluta." Cada jovem adolescente é um Espírito reencarnado que não propriamente inicia, mas recomeça sua vida sexual, no ponto em que deixou suas experiências de vidas passadas. O despertar sexual do adolescente é a recapitulação, através de impulsos, desejos e emoções fortes, das paixões vividas nas encarnações passadas.

A epífise controla o mundo emocional, e sua influência na vida sexual da criatura humana é poderosíssima, porque cada Espírito herda de si mesmo e cada um somente dá aquilo que já construiu de bom ou de mal, de nobre ou inferior, de vício ou de virtude, ou o que armazenou em si mesmo, na forma de reflexos condicionados.

12.4 — Desregramentos emocionais e o desgaste da epífise
Em virtude de nosso infeliz comportamento afetivo em vidas pretéritas, causamos sérios prejuízos a nós mesmos, desregulando a usina maravilhosa do controle das emoções, criando problemas graves e sofrimentos para a encarnação futura. Somos filhos de nossas próprias obras. Ao médico espiritual André Luiz esclarece um Instrutor:

"Lamentavelmente divorciados da lei do uso, abraçamos os desregramentos emocionais, e daí, meu caro amigo, a nossa multimi-lenária viciação das energias geradoras, carregados de compromissos morais, com todos aqueles a quem ferimos com os nossos desvarios e irreflexões."

Os desatinos do sentimento praticados nas vidas anteriores, surgem, hoje, em nosso psiquismo, na forma de desequilíbrios, enfermidades e inibições. Toda vez que prejudicamos alguém, realmente estamos ferindo a nós mesmos. Abusos, leviandade e falsidade na vida afetiva e sexual deixam marcas profundas na estrutura sensível da alma, danificando e desregulando o funcionamento do importante centro de controle que é a epífise.

As funções dessa glândula no crescimento mental do homem são relevantes, cujos recursos devem ser preservados por nós, como nos diz um dos Instrutores do médico espiritual:"— Segregando 'unidades-forças' — continuou —, pode ser comparada a poderosa usina, que deve ser aproveitada e controlada, no serviço de iluminação, refinamento e benefício da personalidade e não relaxada em gasto excessivo do suprimento psíquico, nas emoções de baixa classe."

12.5 — Secreções elétricas da epífise e a prática dos esportes pela juventude. A beleza física e os desregramentos emocionais
Os cientistas e estudiosos materialistas de todo o mundo, percebendo os efeitos danosos para o organismo, em virtude do saturamento das forças nervosas, e no intuito de preservar, na estrutura fisiológica, a juventude, a plástica e a eugenia, recomendaram, acertadamente, a prática dos esportes como medida de saúde, principalmente para os jovens:

"(...) Contra os perigos possíveis, na excessiva acumulação de forças nervosas, como são chamadas as secreções elétricas da epífise, aconselharam aos moços de todos os países o uso do remo, da bola, do salto, da barra, das corridas a pé. Desse modo, preservavam-se os valores orgânicos, legítimos e normais, para as funções da hereditariedade."

A ciência terrena, ainda incapaz de ver a alma no corpo, permanece com as medidas que procuram atender da melhor maneira possível ao organismo humano, garantindo a saúde física, o equilíbrio psíquico, o porte atlético e a beleza da forma, com indiferença quase que completa pelos valores morais para a personalidade juvenil.

Estagia a juventude nos respeitáveis, organizados e belos estabelecimentos de ensino do mundo, no desenvolvimento da cultura, da inteligência nos diversos ramos do conhecimento humano, acrescidos das atividades desportivas, mas lamentavelmente distanciada de um trabalho de orientação no campo do caráter e do sentimento. A medida para resguardar a saúde da juventude ainda é insuficiente:

"(...) A medida, embora satisfaça em parte, é, contudo, incompleta e defeituosa. Incontestavelmente, a ginástica e o exercício controlados são fatores valiosos de saúde; a competição esportiva honesta é fundamento precioso de socialização; no entanto, podem circunscrever-se a meras providências, em benefício dos ossos e, por vezes, degeneram-se em elástico das paixões menos dignas."
O brilhantismo da inteligência, o cérebro enobrecido pela cultura, o corpo esculturado pelos exercícios e competições esportivas não são suficientes para dar equilíbrio, alegria e paz reais à alma da juventude.

A medida é incompleta e defeituosa, porque atende ao corpo, mas não dá equilíbrio à personalidade espiritual. É o que nos fala o mentor espiritual Telésforo, nas palavras do Espírito André Luiz:"(.-.) à medida que se suprimem sofrimentos do corpo, multiplicam-se aflições da alma (...). Atendido, porém, o corpo revelará as necessidades da alma (...)".

Intensificam-se no mundo as atividades respeitáveis dos esportes, promovendo junto aos jovens a saúde, o vigor físico, a alegria, a confraternização cultural, mas ao mesmo tempo proliferam também os desmandos do prazer sexual irresponsável, levando a mocidade aos desregramentos das emoções, dos vícios do álcool e dos tóxicos, com prejuízos enormes para a família e a sociedade, retardando o progresso espiritual da Humanidade. (...)

07 - Evolução em dois Mundos - André Luiz - pág. 135

XVIII - Sexo e corpo espiritual
HERMAFRODITISMO E UNISSEXUALIDADE — Examinando o instinto sexual em sua complexidade nas linhas multiformes da vida, convém lembrar que, por milênios e milênios, o princípio inteligente se demorou no hermafroditismo das plantas, como, por exemplo, nos fanerógamos, em cujas flores os estames e pistilos articulam, respectivamente, elementos masculinos e femininos.

Nas plantas criptogâmicas celulares e vasculares ensaiara longamente a reprodução sexuada, na formação de gamelos (anterozóides e oosfera) que muito se aproximam aos dos animais e cuja fecundação se efetua por meios análogos aos que observamos nestes últimos seres.

Depois de muitas metamorfoses que não cabem num estudo sintético quanto o nosso, caminhou o elemento espiritual, na reprodução monogônica, entre as vastas províncias dos protozoários e metazoários, com a divisão e gemação entre os primeiros, correspondendo à cisão ou estrobilação entre os segundos. Longo tempo foi gasto na evolução do instinto sexual em vários tipos de animais inferiores, alternando-se-lhe os estágios de hermafroditismo com os de unissexualidade para que se lhe aperfeiçoassem as características na direção dos vertebrados.

HERMAFRODITISMO POTENCIAL — Gradativamente, aparecem novos fatores de diferenciação, guardando-se, no entanto, os distintivos essenciais, como podemos identificar, ainda agora, no sapo macho adulto um hermafrodita potencial, apesar dos sinais masculinos com que se apresenta, sabendo-se que carrega na região do seu testículo, positivamente acrescido, um ovário elementar aderente, o conhecido corpo de Bidder. Se extirparmos o testículo, o ovário atrofiado começa a funcionar, por atuação da hipófise, conforme experimentos comprovados, convertendo-se num ovário adulto.

Ocorrência inversa é verificável em cinco a dez por cento de galinhas adultas, isto é, nos indivíduos psiquicamente dispostos, das quais, se retirarmos o ovário esquerdo, também consíderavelmente desenvolvido, o ovário direito, rudimentar, transubstancia-se num testículo que se vitaliza e cresce, na sua parte medular, até então inibida pelos estrogênios do ovário esquerdo. Nesse fenômeno, aumenta-se-lhes a crista, cantam tipicamente à maneira do galo e adotam-lhe a conduta sexual masculina.

Registamos esses fatos para demonstrar que entre todos os vertebrados e muito particularmente no homem, herdeiro das mais complicadas experiências psíquicas, nos domínios da reencamacão, apenas os caracteres morfológicos dos implementos sexuais estão submetidos aos princípios da genética. Isso porque não é só a figuração das glândulas sexuais que se mostra bi-potencial até certo ponto, pois todo o cosmo orgânico é suscetível de reagir aos hormônios do mesmo sexo ou do sexo contrário, segundo as disposições psíquicas da personalidade.

AÇÃO DOS HORMÔNIOS — Atingindo inequívoco progresso em seus estímulos, o corpo espiritual, desde a protoforma psicossômica nos animais superiores até o homem, conforme a posição da mente a que serve, determina mais ampla riqueza hormonal. As glândulas sexuais que então mobiliza são mais complexas. Exercem a própria ação pelos hormônios que segregam, arrojando-os no sangue, hormônios esses, femininos ou masculinos, que possuem por arcabouço da constituição química, em que se expressam, o núcleo ciclo-pentano-peridrofenantreno, filiando-se ao grupo dos esteróis.

Os hormônios estrogênicos, oriundos do ovário, mantêm os caracteres femininos secundários, e os androgênicos, segregados pelo testículo, sustentam os caracteres masculinos da mesma ordem. Produzem ações estimulantes e inibitórias, todavia, como atendem necessariamente a impulsos e determinações da mente, por intermédio do corpo espiritual, incentivam o desenvolvimento ou a maneira de proceder da espécie, mas não os origina. Por isso, nenhum deles possui ação monopolizadora no mundo orgânico, não obstante patentearem essa ou aquela influência de modo mais amplo.

Ainda em razão do mesmo princípio que lhes vige na formação, pelo qual obedecem às vibrações incessantes do campo mental, os hormônios não se armazenam: transformam-se rapidamente ou sofrem apressada expulsão nos movimentos excretórios. Entendendo-se os recursos da reprodução como engrenagens e mecanismos de que o Espírito em evolução se vale para a plasmagem das formas físicas, sem que os homens lhe comprovem, de modo absoluto, as qualidades mais íntimas, é fácil reconhecer que as glândulas sexuais e seus hormônios exibem efeitos relativamente específicos.

Inegavelmente, o ovário e os hormônios femininos se responsabilizam pelos distintivos sexuais femininos, mas podem desenvolver alguns deles no macho, prevalecendo as mesmas diretrizes para o testículo e os hormônios que lhe correspondem.

Isso é claramente demonstrável nos experimentos de castração, enxertos e injeções hormonais, porquanto, apesar de a ação sexual específica do testículo e do ovário apresentar-se como fato indiscutível, a gônada, refletindo os estados da mente, herdeira direta de experiências inumeráveis, eventualmente produz certa quantidade de hormônios heterossexuais e, da mesma sorte, ainda que os hormônios sexuais se afirmem com atividade específica intensa, em determinados acontecimentos realizam essa ou aquela ação em órgãos do sexo oposto. Esses são os efeitos heterossexuais ou bissexuais das glândulas ou dos hormônios.

ORIGEM DO INSTINTO SEXUAL — Todas as nossas referências a semelhantes peças do trabalho biológico, nos reinos da Natureza, objetivam simplesmente demonstrar que, além da trama de recursos somáticos, a alma guarda a sua individualidade sexual intrínseca, a definir-se na feminilidade ou na masculinidade, conforme os característicos acentuadamcnte passivos ou claramente ativos que lhe sejam próprios.

A sede real do sexo não se acha, dessa maneira, no veículo físico, mas sim na entidade espiritual, em sua estrutura complexa. E o instinto sexual, por isso mesmo, traduzindo amor em expansão no tempo, vem das profundezas, para nós ainda inabordáveis, da vida, quando agrupamentos de mônadas celestes se reuniram magneticamente umas às outras para a obra multi-milenária da evolução, ao modo de núcleos e eletrões na tessitura dos átomos, ou dos sóis e dos mundos nos sistemas macro cósmicos da Imensidade.

Por ele, as criaturas transitam de caminho a caminho, nos domínios da experimentação multifária, adquirindo as qualidades de que necessitam; com ele, vestem-se da forma física, em condições anômalas, atendendo a sentenças regeneradoras na lei de causa e efeito ou cumprindo instruções especiais com fins de trabalho justo.

O sexo é, portanto, mental em seus impulsos e manifestações, transcendendo quaisquer impositivos da forma em que se exprime, não obstante reconhecermos que a maioria das consciências encarnadas permanecem seguramente ajustadas à sinergia mente-corpo, em marcha para mais vasta complexidade de conhecimento e emoção.

EVOLUÇÃO DO AMOR — Entretanto, importa reconhecer que à medida que se nos dilata o afastamento da animalidade quase absoluta, para a integração com a Humanidade, o amor assume dimensões mais elevadas, tanto para os que se verticalizam na virtude como para os que se horizontalizam na inteligência.

Nos primeiros, cujos sentimentos se alteiam para as Esferas Superiores, o amor se ilumina e purifica, mas ainda é instinto sexual nos mais nobres aspectos, imanizando-se às forças com que se afina em radiante ascensão para Deus. Nos segundos, cujas emoções se complicam, o amor se requinta, transubstanciando-se o instinto sexual em constante exigência de satisfação imoderada do "eu".

De conformidade com a Psicanálise, que vê na atividade sexual a procura incessante de prazer, concordamos em que uns, na própria sublimação, demandam o prazer da Criação, identificando-se com a Origem Divina do Universo, enquanto que outros se fixam no encalço do prazer desenfreado e egoístico da auto-adoracão. Os primeiros aprendem a amar com Deus. Os segundos aspiram a ser amados a qualquer preço.

A energia natural do sexo, inerente à própria vida em si, gera cargas magnéticas em todos os seres, pela função criadora de que se reveste, cargas que se caracterizam com potenciais nítidos de atração no sistema psíquico de cada um e que, em se acumulando, invadem todos os campos sensíveis da alma, como que a lhe obliterar os mecanismos outros de ação, qual se estivéssemos diante de usina reclamando controle adequado.

Ao nível dos brutos ou daqueles que lhes renteiam a condição, a descarga de semelhante energia se efetua, indiscriminadamente, através de contatos, quase sempre desregrados e infelizes, que lhes carreiam, em consequência, a exaustão e o sofrimento como processos educativos.'

POLIGAMIA E MONOGAMIA — O instinto sexual, então, a desvairar-se na poligamia, traça para si mesmo largo roteiro de aprendizagem a que não escapará pela matemática do destino que nós mesmos criamos. Entretanto, quanto mais se integra a alma no plano da responsabilidade moral para com a vida, mais apreende o impositivo da disciplina própria, a fim de estabelecer, com o dom de amar que lhe é intrínseco, novos programas de trabalho que lhe facultem acesso aos planos superiores.

O instinto sexual nessa fase da evolução não encontra alegria completa senão em contato com outro ser que demonstre plena afinidade, porquanto a liberação da energia, que lhe é peculiar, do ponto de vista do governo emotivo, solicita compensação de força igual, na escala das vibrações magnéticas.

Em semelhante eminência, a monogamia é o clima espontâneo do ser humano, de vez que dentro dela realiza, naturalmente, com a alma eleita de suas aspirações a união ideal do raciocínio e do sentimento, com a perfeita associação dos recursos ativos e passivos, na constituição do binário de forças, capaz de criar não apenas formas físicas, para a encarnação de outras almas na Terra, mas também as grandes obras do coração e da inteligência, suscitando a extensão da beleza e do amor, da sabedoria e da glória espiritual que vertem, constantes, da Criação Divina.

ALIMENTO ESPIRITUAL — Há, por isso, consórcios de infinita gradação no Plano Terrestre e no Plano Espiritual, nos quais os elementos sutis de comunhão prevalecem acima das linhas morfológicas do vaso físico, por se ajustarem ao sistema psíquico, antes que as engrenagens da carne, em circuitos substanciais de energia.

Contudo, até que o Espírito consiga purificar as próprias impressões, além da ganga sensória!, em que habitualmente se desregra no narcisismo obcecante, valendo-se de outros seres para satisfazer a volúpia de hipertrofiar-se psiquicamente no prazer de si mesmo, numerosas reencarnações instrutivas e reparadoras se lhe debitam no livro da vida, porque não cogita exclusivamente do próprio prazer sem lesar os outros, e toda vez que lesa alguém abre nova conta resgatável em tempo certo.

Isso ocorre porque o instinto sexual não é apenas agente de reprodução entre as formas superiores, mas, acima de tudo, é o reconstituinte das forças espirituais, pelo qual as criaturas encarnadas ou desencarnadas se alimentam mutuamente, na permuta de raios psíquico-magnéticos que lhes são necessários ao progresso.

Os espíritos santificados, em cuja natureza superevolvida o instinto sexual se diviniza, estão relativamente unidos aos Espíritos Glorificados, em que descobrem as representações de Deus que procuram, recolhendo de semelhantes entidades as cargas magnéticas sublimadas, por eles próprios liberadas no êxtase espiritual.

De outro lado, as almas primitivas comumente lhe gastam a força em excessos que lhes impõem duras lições. Entre os espíritos santificados e as almas primitivas, milhões de criaturas conscientes, viajando da rude animalidade para a Humanidade enobrecida, em muitas ocasiões se arrojam a experiências menos dignas, privando a companheira ou rompendo a comunhão sexual que lhes alentava a euforia, e, se as forças sexuais não se encontram suficientemente controladas por valores morais nas vítimas, surgem, frequentemente, longos processos de desespero ou de delinquência.

ENFERMIDADES DO INSTINTO SEXUAL — As cargas magnéticas do instinto, acumuladas e desbordantes na personalidade, à falta de sólido socorro íntimo para que se canalizem na direção do bem, obliteram as faculdades, ainda vacilantes, do discernimento e, à maneira do esfaimado, alheio ao bom senso, a criatura lesada em seu equilíbrio sexual costuma entregar-se à rebelião e à loucura em síndromes espirituais de ciúme ou despeito. À face das torturas genésicas a que se vê relegada, gera aflitivas contas cármicas a lhe vergastarem a alma no espaço e a lhe retardarem o progresso no tempo.

Daí nascem as psiconeuroses, os colapsos nervosos decorrentes do trauma nas sinergias do corpo espiritual, as fobias numerosas, a "histeria de conversão", a "histeria de angústia", os "desvios da libido", a neurose obsessiva, as psicoses e as fixações mentais diversas que originam na ciência de hoje as indagações e os conceitos da psicologia de profundidade, na esfera da Psicanálise, que identifica as enfermidades ou desajustes do instinto sexual sem oferecer-lhes medicação adequada, porque apenas o conhecimento superior, gravado na própria alma, pode opor barreiras à extensão do conflito existente, traçando caminhos novos à energia criadora do sexo, quando em perigoso desequilíbrio.

Desse modo, por semelhantes ruturas dos sistemas psicossomáticos, harmonizados em permutas de cargas magnéticas afins, no terreno da sexualidade física ou exclusivamente psíquica, é que múltiplos sofrimentos são contraídos por nós todos, no decurso dos séculos, porquanto, se forjamos inquietações e problemas nos outros, com o instinto sexual, é justo venhamos a solucioná-los em ocasião adequada, recebendo por filhos e associados de destino, entre as fronteiras domésticas, todos aqueles que constituímos credores do nosso amor e da nossa renúncia, atravessando, muitas vezes, padecimentos inomináveis para assegurar-lhes o refazimento preciso.

Compreendamos, pois, que o sexo reside na mente, a expressar-se no corpo espiritual, e consequentemente no corpo físico, por santuário criativo de nosso amor perante a vida, e, em razão disso, ninguém escarnecerá dele, desarmonizando-lhe as forças, sem escarnecer e desarmonizar a si mesmo.

09 - Curso Dinâmico de Espiritismo - J. Herculano Pires - pág. 139

XIX — AMOR, SEXUALIDADE E CASAMENTO
No Espiritismo o problema do amor implica a relação direta do homem com Deus. Criador e criatura se religam no desenvolvimento humano da lei de adoração. Quanto mais o homem desenvolve as suas potencialidades existenciais, o seu potencial ôntico, mais ele se aproxima de Deus, mais o sente e mais o compreende. Nunca houve nem poderia haver um rompimento total e definitivo entre Criador e criatura. No próprio dogma da queda a expulsão do homem da face de Deus é apenas temporária. Por isso o Espirismo é Religião, mas não é Igreja.

A diferença entre Igreja e Religião é a mesma que existe entre alma e corpo. O homem perde o corpo na morte, mas não perde a alma. A Religião anunciada por Jesus não possui corpo, é alma pura, que sobrevive por si mesma. No diálogo com a Mulher Samaritana Jesus desprezou o Templo de Jerusalém e o Templo do Monte Gerasin, referindo-se apenas à Religião Livre do Futuro. Porque a relação religiosa é puramente espiritual. A Religião não depende de formalismos, sacramentos, instituições e órgãos.

É subjetiva e se define como o Amor a Deus. Essa relação direta exclui naturalmente todas as formas de discriminação, pois seu objetivo é a unidade. Quando uma criatura se liga a Deus, liga-se ao mesmo tempo a todas as criaturas e a todo o Universo, integra-se na realidade absoluta. Tudo o mais são coisas humanas, pertence à diáspora, ou seja, ao tempo do exílio, em que o homem se afastou de Deus. Esta simplificação da Religião só ocorre na máxima complexidade, que é o mergulho do homem em sua essência, proveniente de Deus e que é o próprio Deus em nós. Exemplifiquemos humanamente esta questão.

Conta-se que um sábio indiano mandou três filhos estudar na Inglaterra. Quando voltaram diplomados perguntou ao primeiro: "O que é Deus"? O rapaz fez uma longa e confusa digressão a respeito. O segundo vacilou em sua explicação e disse que precisava estudar mais o assunto. O terceiro calou-se e seus olhos se encheram de estranha névoa luminosa. O pai disse aos três; por ordem das perguntas: Você, meu filho, procurou Deus nas teologias e não conseguiu achá-lo; você, meu segundo filho, está tateando no escuro como um cego; e você, meu filho, que não me respondeu, encontrou Deus e nele mergulhou de tal maneira que não pode traduzi-lo em palavras. Você não perdeu tempo com as coisas exteriores e por isso foi o único que realmente aprendeu o que é Deus".

A contradição máxima complexidade e máxima simplicidade não é contradição, mas fusão. A complexidade infinita das coisas e dos seres no Universo aturde o homem que busca Deus, mas ao encontrá-lo o homem percebe de pronto que toda a complexidade se funde na Existência Única de Deus. É como o marinheiro que navegou por muitos mares, surpreso com as variedades e as diferenciações formais de todos eles, mas ao terminar a sua navegação constata que todos os mares não são mais do que o Grande Mar.

A religião em Espírito e Verdade é esse Mar Total em que todos mares e todas as águas se reúnem numa coisa só. Todas as religiões nasceram da mediunidade, que é o fundamento de todas as religiões, que por sua vez se fundem na Religião em essência que é a Religião do Espírito ou o Espiritismo. Nela não se precisa de coisas específicas, pois todas as coisas se fundem numa só — o Amor a Deus.

Um jovem e uma jovem se amam e o amor que os atrai é o Amor de Deus nas criaturas. A bênção do amor já os ligou e eles não necessitam de palavras, ritos ou sacramentos para se unirem, pois unidos já estão. Se não houver amor entre eles, não estão unidos e de nada valera a união formal por meios sacramentais. É por isso que no Espiritismo não há sacramentos nem formalismo algum, pois tudo depende, em todas as circunstâncias, da essência única — e única verdadeira — que é o Amor.

Mas o Espiritismo reconhece a necessidade humana de disciplinação social, e por isso recomenda apenas o casamento civil. Ainda por isso o Espiritismo reconhece a necessidade do divórcio, pois no plano ilusório da matéria as criaturas se confundem e misturam sexualidade e desejo com o Amor. Jesus, respondendo aos judeus por que motivo Moisés permitia o divórcio, disse-lhes: "Por causa da dureza dos corações, mas no princípio não foi assim". Kardec explica que, no princípio da humanidade o amor era espontâneo, livre de injunções estranhas, e então não era necessário o divórcio.

O Espirismo não faz casamentos nem divórcios, nem as anulações de casamento que a Igreja faz, pois esses problemas pertencem às leis humanas. Da mesma maneira o Espiritismo não faz batizados — pois o batismo é do espírito — nem recomenda defuntos ou distribui bênçãos, pois todas essas coisas não são feitas pelos homens e sim por Deus. Todos os sacramentos e formalismos são substituídos no Espiritismo pela prece, que serve em todas as ocasiões da vida e da morte, pois é um momento de ligação do homem com Deus, o diálogo com o Outro, como queria Kierkegaard. Toda intervenção humana interesseira e venal é substituída pela serena confiança nas bênçãos gratuitas do Céu. Nesse ato humano de louvor ou de súplica, desprovido de aparatos exteriores, a presença da Divindade é o cumprimento da promessa de Jesus, sem nenhuma evocação formal.

A solidariedade espiritual se revela no esforço de transcendência vertical das criaturas, conscientes da lei da sublimação. Não há fórmulas orais nem gestos, nem signos ou mitos na tranquila vibração das consciências na intimidade de todos e de cada um. A prece espontânea brota das profundezas do ser com a naturalidade de uma flor que desabrocha. Não é um ato da vontade, mas um aflorar do espírito. Não é uma ficha arrancada do arquivo da memória, mas um impulso do coração. As raízes latinas: prex, precis, determinaram no tempo, através de séculos e milênios, a forma leve e suave da palavra portuguesa prece, que soa nos lábios como um bater secreto de asas minúsculas.

Prefere-se prece à oração, porque a primeira condiz e se harmoniza com o ato interior e invisível com que a alma se lança na transcendência. Há um mistério sutil nessa escolha intuitiva desse par de sílabas poéticas que repercutem nos corações como o perpassar de uma brisa entre pétalas. Não tentamos fazer poesia nem divagar, mas descobrir através de imagens e palavras, o imponderável do instante da prece.

Os que não se contentam com esse sopro do espírito, esse pneuma grego, esse frêmito inaudível, captado mais pela alma do que pelos ouvidos, preferindo orações extensas e grandíloquas, estão ainda imantados aos formalismos sacramentais. Nada revela mais claramente a natureza intimista da religião espiritual do que essa preferência espírita pela prece. Livrar a criatura do peso da matéria, para que ela possa elevar-se a Deus no silêncio de si mesmo é a finalidade da prece.

Do problema da prece temos de passar à questão sexual, o que não seria recomendável ainda há pouco tempo. O tabu sexual fechava todas as passagens a atrevimentos dessa espécie. As marcas da era fálica haviam aterrorizado o Cristianismo Primitivo, que teve de lutar tenazmente contra a depravação romana e do paganismo em geral. As epístolas de Paulo nos mostram o desespero do Apóstolo ante o comportamento animal dos conversos em certas igrejas, particularmente na de Corinto. Isso impediu o Apóstolo, já assustado com a corrupção grega e romana no próprio Judaísmo, a tomar uma atitude radical no tocante ao sexo.

O falso conceito judeu da pureza (mais racial e religioso do que moral), provocava os seus brios de antigo Doutor da Lei contra o perigo da época. Das reações de Paulo e do puritanismo hipócrita dos fariseus teria de nascer uma era antifálica e anti-sensual, volta para o extremo oposto da castidade forçada e do celibato sacrificial. Foi tão violenta essa reação que nem mesmo os exemplos de mentalidade aberta do Cristo puderam atenuá-la. Não somente o sexo, como instrumento de perdição, mas a própria sexualidade foram condenadas sumariamente. Por pouco a prática judaica da circuncisão, que alguns apóstolos mais afoitos, como Pedro, exigiam dos conversos pagãos, não se transformou na castração árabe dos haréns.

É significativo o fato de Paulo, depois da circuncisão que praticou recusar-se a continuar circuncidado e até mesmo a batizar com água.
Houve também, como teria de haver, reações contrárias a essa posição extremada, com liberalidades também extremada, que mais tarde resultariam no episódio dos Libertinos do Século XX, católicos e protestantes rejeitados pelas idéias renascentistas, precursores da fase atual de libertinagem que abalaram o mundo. A pornografia assustadora de hoje, que fomenta a indústria as perversões sexuais em revistas, jornais, cartazes, cinema e televisão, é por sua vez um novo eclodir da sensualidade sem freios, desvirtuando o sentido natural da sexualidade. São esses os balanços de um barco de loucos atirado à fúria de tempestades marítimas, à semelhança do Barco dos Mortos de Traven.

A contra-reação da moral vitoriana inglesa nada mais fez do que preparar a sua própria explosão, na fase atual do homossexualismo europeu desenfreado, que parece vingar a prisão de Oscar Wild em Reading. A sexualidade afrontada encontrou em Marcuse o seu defensor filosófico, mas em termos exagerados. Desde o século passado o Espiritismo colocou nos fundamentos de toda a realidade terrena a questão do princípio vital, elemento mantenedor de toda a vida planetária.

A sexualidade, que não é o sexo, mas a potência sexual geradora e mantenedora de vida, é a carga de energia vital do planeta, distribuída nos indivíduos de todas as espécies. Na era fálica essa força era cultuada mas não havia libertinagem nem pornografia nesse culto, pois não se considerava o sexo como pecado, mas como instrumento sagrado de reprodução da espécie. Na Suméria os casais se uniam nos altares dos templos, na presença de sacerdotes que os abençoavam para a fecundação. Esse senso da dignidade do sexo perdeu-se nas civilizações teocráticas, esmagado sob as condenações do gozo, que impediam a alma de alcançar a salvação.

Marcuse tem razão ao defender a teoria das civilizações suicidas, que condenam o sexo e a ele se entregam na exclusiva busca do prazer, desenvolvendo a indústria aviltante do gozo sexual, que reduz o sexo a instrumento de loucura e perversão. A colocação espírita desse problema é clara e precisa como vemos no capítulo sobre a Lei de Reprodução, do O Livro dos Espíritos:
— "As leis e costumes humanos que objetivam ou têm por efeito obstar a reprodução são contrários à lei natural?: Tudo o que entrava a marcha da Natureza é contraria à lei geral".

Todas as espécies devem reproduzir-se, mesmo as que parecem daninhas. O equilíbrio mesológico se faz segundo as leis biomesológicas de cada área específica: o campo, o cerrado, a floresta, as águas, as cidades e assim por diante. Há espécies daninhas que são sobrevivências de formas em extinção ou mutação, para adaptações a condições novas que estão surgindo.




ANTONIO NASCIMENTO PEREIRA

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