quinta-feira, 18 de março de 2010

DISCIPLINA

PMoryah

-Disciplina é o atributo do discípulo. E o discípulo é "aquele que segue".

-O termo disciplina, no entanto, foi ganhando outra conotação, um tanto negativa. Talvez porque os discípulos nem sempre se comportem bem, disciplina passou a significar, cada vez mais, "castigo que produz obediência".
-O menino malcriado, que atira pedras a quem passa, tem que ser "disciplinado". O desordeiro, que cria conflitos e se torna perigoso para o seu semelhante, tem que ser "disciplinado".

-São as nossas imperfeições que transformam a disciplina em algo doloroso. A disciplina pode ser uma regra de vida, salutar e agradável de seguir. A disciplina do atleta, que segue programas de treino e higiene de vida que lhe permitem aceder a grandes feitos. A disciplina do estudioso, que desbrava com método os caminhos do Conhecimento. A disciplina do monge budista, que estuda muitas horas, que se alimenta frugalmente e treina kung-fu com total entrega. A disciplina do cientista, do operário, do religioso. Eis alguns aspectos da disciplina no seu sentido positivo.

-Há culturas em que o senso moral nunca atinge o seu pico, que é fazer e deixar de fazer qualquer coisa, por vontade própria, e não pelo medo de ser "disciplinado". Na nossa cultura, há que reconhecê-lo, o que impede muita gente de prevaricar, não é a sua consciência, mas o medo da polícia e dos tribunais.

-A disciplina moral, como Jesus no-la ensinou, dispensa o medo do Inferno, dos Diabos e das penitências. Cada um deve procurar tratar os outros como gosta que estes o tratem. Fazer o bem pelo bem, sem esperar recompensa.
-Por isso se reconhece o verdadeiro espírita e o verdadeiro cristão pelos esforços para domar as suas más inclinações.

-É difícil não errarmos. O erro é próprio da nossa evolução espiritual ainda incipiente. Errando, a culpa é de todo dispensável. A nossa consciência se encarrega de nos fazer sentir que errámos. Se possível, devemos sempre corrigir o erro. Se não for, as desculpas a quem prejudicámos e a firme intenção de fazer o possível para errar menos.

-O Espiritismo é uma doutrina que tem o seu quê de desconfortável. É que, quando erramos, sabemos que o fizemos e enfrentamos as nossas imperfeições. Quando enfrentamos um dilema moral, sabemos, no fundo a resposta. "Ofendo ou não ofendo? Vingo-me ou não me vingo? Sou desonesto ou sou honesto?". O Espiritismo, filosofia cristã, dá-nos a resposta óbvia para tais dilemas. E aconselha-nos que, se escorregamos, devemos reparar o erro e pedir desculpas. Isto está longe de ser confortável a curto prazo.

-A questão da disciplina prende-se com a do dever, outra palavra que ganhou conotação negativa, de "ocupação penosa". Mas o Espiritismo ensina-nos que o dever é o mais belo laurel da razão.

- As regras práticas do centro espírita e da actividade espírita em geral, são disciplina. Ser pontual, estar atento, estudar, participar nas actividades, evitar fumar e beber, são regras de civismo e higiene de vida aplicáveis a toda a gente em todos os lugares e instituições.

- O estudo, aspecto muito destacado neste debate, é disciplina de que o trabalhador espírita, e todos os espíritas, não devem prescindir. Pois se Espiritismo é fé raciocinada, mal fora que a nossa actividade se cingisse a marcar presença no centro. Mas também isto é senso-comum.

- A disciplina interior, que nos impulsiona para aprender com todos, humildemente; para viver o Evangelho de Jesus sem ânsias de perfeição, mas de forma determinada; para estudar mais para servir mais; essa a disciplina do Espiritismo, por excelência, e aquela com que mais se conta da parte dos candidatos a fundar um grupo de estudos ou uma associação espírita mais "institucional".

A disciplina não é, portanto, incompatível com o amor, a alegria e a liberdade. É antes um caminho para lá chegar.



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