segunda-feira, 2 de maio de 2011

O EVANGELHO DE JUDAS


Por dois milênios, Judas foi apontado como o maior traidor de Jesus.
Agora, documentos sugerem que ele pode ser sido o mais fiel de seus seguidores.
Essa é a última palavra sobre Judas Iscariotes: ele não traiu Jesus!
Não é, necessariamente, a verdadeira. Nem a mais correta. Mas é a última versão da história mais polêmica do cristianismo.
A revelação faz parte de um manuscrito redigido há cerca de 1,7 mil anos e que passou a maior parte desse tempo perdido em uma caverna no deserto egípcio.
Escrito em copta, o idioma usado na redação de manuscritos no Egito antigo, o texto não deixa qualquer dúvida sobre os segredos que promete revelar.
Na linha que abre a primeira das 13 folhas encontradas está grafado em destaque: Evangelho de Judas.
A tradução do manuscrito foi apresentada em abril, após 5 anos de trabalho.
Autenticação, restauração e decodificação foram feitas pela Fundação Mecenas, da Suíça, e bancadas pela National Geographic Society.
O resultado deixou historiadores e arqueólogos eufóricos.
Afinal, descobertas como essa são raras e têm poucos precedentes - em termos de valor histórico, o evangelho pode ser comparado ao encontro dos Pergaminhos do Mar Morto, em 1947, que nos trouxe a mais antiga Bíblia conhecida, ou dos Manuscritos de Nag Hammadi, em 1948, que revelou ao mundo a existência dos evangelhos apócrifos.
Juntos, todos esses textos estão permitindo que pesquisadores reconstruam a história do nascimento da religião que mais tem fiéis no mundo. "
Por 2 mil anos, acreditamos que as únicas fontes sobre a vida de Jesus eram os 4 evangelhos canônicos:
Mateus, Marcos, Lucas e João.
Mas, nos últimos 50 anos, vimos que eles são apenas pequenos exemplos entre vários textos que foram escritos nos primeiros séculos apos a crucificação", diz Elaine Pagels, professora de religião na Universidade de Princeton.
Não que o Evangelho de Judas fosse exatamente um desconhecido.
Estudiosos da religião já sabiam de sua existência por causa de uma carta escrita em 178 d.C. pelo então bispo de Lyon, santo Irineu - o homem que decidiu que apenas os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João entrariam na Bíblia.
Em seu texto,Irineu citava nominalmente o Evangelho de Judas em meio a outros textos que o desagradavam pelo conteúdo "herético".
O manuscrito recém-traduzido afirma que o único apóstolo a entender todo o significado dos ensinamentos de Jesus foi Judas.
 Ele mesmo, o homem cujo boneco é espancado anualmente na Páscoa brasileira.
Cujo uso do nome é proibido na Alemanha.
O sinônimo definitivo de traição.
E, goste ou não, a última chance de rever esse estigma sobre o apóstolo é o evangelho.
"Desconhecemos a existência de qualquer outro documento que relate a vida de Judas", afirma Stephen Emmel, professor de estudos coptas da Universidade de Münster, na Alemanha, e um dos primeiros estudiosos a entrar em contato com o manuscrito.
 Estamos, portanto, diante da última palavra, sobre Judas Escariotes!

Descoberta

O documento, com bordas em couro, foi descoberto nos anos 1970 no deserto egípcio, perto de El Minya. Ele circulou em seguida entre os comerciantes de antigüidades para se encontrar primeiro na Europa e depois nos Estados Unidos, onde permaneceu em um cofre de um banco em Long Island (Nova York) durante 16 anos, antes de ser comprado em 2000 pela antiquária suíça Frieda Nussberger-Tchacos. Inquieta com a deterioração do manuscrito, a antiquária confiou-o à fundação suíça Maecenas em fevereiro de 2001, a fim de preservá-lo e traduzi-lo. Após a restauração do documento, o trabalho de análise e tradução foi confiado a uma equipe de coptólogos dirigida pelo professor Rodolphe Kasser, um aposentado da Universidade de Genebra. Kasser disse jamais ter visto um manuscrito em um estado tão ruim: páginas faltavam, o topo das páginas, onde ficavam os números, estava rasgado, e havia quase mil fragmentos de papiro. Para reconstituir, segundo ele, o "quebra-cabeças mais complexo jamais criado pela história", o professor Kasser foi auxiliado pela conservadora de papiros Florence Darbre e pelo especialista em copta dialectal Gregor Wurst, da Universidade de Augsburg (Alemanha). O documento, chamado "Codex de Tchacos", será devolvido ao Egito e conservado no museu copta do Cairo.

"Os resultados dos testes permitem chegar à conclusão de que o texto remonta a um período compreendido entre o princípio do século III e o princípio do século IV", garante Mario Jean Roberty, director da Fundação Maecenas, com sede na Basiléia.

Tu sacrificarás o homem que me revestiu

O trecho-chave do documento é atribuído a Jesus, dizendo a Judas: "Tu vais ultrapassar todos. Tu sacrificarás o homem que me revestiu". Segundo os exegetas, esta frase significa que Judas contribuirá a liberar o espírito de Jesus ao ajudar este a se livrar de seu envelope carnal.

"Essa descoberta espectacular de um texto antigo, não-bíblico, considerada por alguns especialistas como um dos mais importantes jamais descobertos nos últimos 60 anos, estende nosso conhecimento da história e das diferentes opiniões teológicas do início da era cristã", esclarece Terry Garcia, um dos responsáveis da revista estado-unidense National Geographic.

A existência do Evangelho de Judas havia sido atestada pelo primeiro bispo de Lyon, São Irineu, que o denunciou em um texto contra as heresias na metade do século II. Presume-se que o original, provavelmente escrito em grego, seja datado do início do século II.

São Irineu comentou a existência de uma seita gnóstica chamada de Cainitas, cuja crenca era baseada no princípio que o mundo material era mau, portando seu Criador também maligno. Além de Irineu, Epifânio também argumentou pela existência desse manuscrito. Os Cainitas adoravam a Caim, pois teria se revoltado contra Deus e tinham a Judas Iscariotes por profeta, pois ele supostamente teria descoberto os planos de Deus e enganado-o traindo a Jesus, o Seu Filho.Os Cainitas compuseram um evangelho próprio para provar suas teorias e atribuíram a Judas Iscariotes. Nenhum manuscrito dele sobreviveu, existindo somente em citações fragmentárias.

Elaine Pagels, professor de Religião na Universidade de Princeton e uma das grandes especialistas mundiais sobre os Evangelhos gnósticos, considera que "a descoberta surpreendente do Evangelho de Judas, bem como daqueles de Maria Madalena e de diversos outros documentos dissimulados durante quase 2000 anos, modifica nossa compreensão dos primórdios do cristianismo. Essas descobertas erradicam o mito de uma religião monolítica e mostram o quanto o movimento cristão era realmente diversificado e fascinante no seu início".

Quase dois mil anos após ter semeado a discórdia entre os primeiros cristãos, o "Evangelho Segundo Judas", apóstolo que traiu Jesus, volta à tona na Suíça, onde está sendo traduzido.

O manuscrito em papiros de 62 folhas escritas em dialeto copta, a antiga língua dos cristãos do Egito, deve ser publicado em alemão, inglês e francês daqui a mais ou menos um ano, afirmou nesta terça-feira a Fundação Maecenas.

"Nós recebemos os resultados dos testes de datação com o carbono 14: o texto é ainda mais antigo do que pensávamos e remonta a um período entre o fim do século III e o começo do século IV", explicou à France Presse o diretor da fundação da Basiléia, Mario Jean Roberty.

A existência do "Evangelho Segundo Judas", cujo original é verossímil em grego, foi atestada pelo primeiro bispo de Lyon, Santo Irineu, que no século II denunciou o texto como herético.

"É a única fonte clara que permite saber que tal evangelho existia", segundo Roberty, que não quis falar sobre o conteúdo do texto antes de sua publicação. "Nós não queremos revelar ainda o caráter excepcional do material que temos entre as mãos."

Segundo a tradição, Judas entregou Jesus aos romanos, que o pregaram na cruz. Cheio de remorsos, ele teria se enforcado. "Entretanto, em seu evangelho, não se enforcou", ironiza o especialista. O mistério continua sobre os verdadeiros autores da obra.

"Ninguém pode dizer que Judas escreveu ele próprio o evangelho", destaca Roberty, acrescentando que os outros evangelhos também não saíram das mãos dos apóstolos.

No Concílio de Nicéia (Turquia), reunido em 325 por iniciativa do primeiro imperador cristão, Constantino, a Igreja limitou a quatro os evangelhos transmitindo os ensinamentos de Cristo. Somente os textos atribuídos a Marcos, João, Lucas e Mateus foram mantidos.

Cerca de trinta textos, alguns deles conhecidos, foram descartados porque não estavam de acordo com o que Constantino desejava como doutrina política, observou Roberty.

De acordo com o especialista, o evangelho de Judas colocaria em questão certos princípios políticos da doutrina cristã. Também permitiria uma certa reabilitação de Judas, que durante séculos cristalizou as acusações de assassino de Jesus feitas pela Igreja contra o povo judeu.
"Eu vejo um elemento muito positivo nisso porque a figura de Judas é uma das justificativas do cristianismo por sua visão anti-semita", afirma.
A origem do evangelho segundo Judas é misteriosa. Depois de sua descoberta no Egito nos anos 1950 ou 1960, fez uma breve passagem na Suíça antes de ser colocado em um cofre nos Estados Unidos durante 20 anos. Apenas no final de 1990 seu conteúdo foi identificado e a fundação Maecenas o comprou em 2001.
Depois do documento restaurado, o trabalho de análise e de tradução foi confiado a uma equipe dirigida pelo professor Rudolf Kasser, aposentado da Universidade de Genebra.
A fundação Maecenas, que se esforça para proteger as descobertas arqueológicas nos países pobres, prevê a realização de exposições e de um documentário sobre a publicação da obra. O lançamento do texto integral, na Páscoa de 2006, será acompanhado por obras contando a aventura da descoberta desse evangelho.




                                                                     GALERÍA





Materialização de espiritos via ectoplasma produzido pelo médiun em transe
fotos captados nos anos cinquenta


 








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