quarta-feira, 13 de julho de 2011

SUCESSOR DE CHICO XAVIER

É impressionante a insistente preocupação da mídia - muito mais especialmente a espírita - em procurar saber, por todos os meios e em todas as entrevistas com pessoas ligadas ao Espiritismo, sobre quem será o sucessor de Chico Xavier. Curiosamente, nem sequer é explicado pelos entrevistadores o que significa “sucessor”: será quanto à mediunidade, quanto a uma suposta direção do movimento espírita, quanto ao contato com Espíritos como Emmanuel, André Luiz e tantos outros com quem Chico se compromissou nesta encarnação, ou quanto a sabe-se lá o quê?
Ouve-se dizer até na hipótese de uma “subrogação” do mandato mediúnico do amorável Chico... como se isso fosse um negócio comercial, jurídico, contratual.
Se tais questionamentos viessem da imprensa leiga, até seria compreensível ou aceitável, pois que pouca gente sabe exatamente como ocorre o fenômeno mediúnico (estão acostumados com santos, orixás etc.), muito menos o que seja mandato mediúnico. Mas, a imprensa espírita envolver-se nessa questiúncula... É demais!
Antes de falarmos da suposta sucessão do mais dedicado médium que apareceu por estas plagas, vejamos a origem da conceituação de “mandato mediúnico”, para espancar as dúvidas: afirmam todos os estudiosos da doutrina que todas as criaturas são médiuns potenciais, detendo um mediunismo natural (também chamada de mediunidade estática, cuja definição técnica é: “forma primitiva de mediunidade que fundamenta as crenças e religiões primitivas”); quando essa potencialidade natural é desenvolvida e posta a serviço constante dos necessitados de assistência, é chamada de mediunidade, propriamente dita, também conhecida como mediunidade dinâmica (cuja definição técnica é: “o mediunismo desenvolvido, racionalizado e submetido à reflexão religiosa e filosófica e às pesquisas necessárias ao esclarecimento dos fenômenos, sua natureza e suas leis”); quando o médium estabelece uma sintonia constante com entidades espirituais de profunda moralidade em benefício da coletividade, em verdadeiro compromisso espiritual, ocorre o mandato mediúnico (que se define: “É a mediunidade investida dos caracteres da missão e baseada no amor e nas virtudes de Jesus”). Vale dizer que esse “mandato” significa a confiança que o Espírito tem no médium, na sua seriedade, no seu trabalho para o Bem, na sua persistência no trabalho útil, enfim, no seu compromisso moral.
Logo, por aí se deduz que não existe a tal passagem do mandato mediúnico para ninguém: primeiro, porque a faculdade é própria de cada ser, nenhuma igual à outra; segundo, porque depende de este ou aquele Espírito consorciar-se com outro médium e isso não o subordina à vontade do outro médium que com ele estabelecia uma simbiose útil. Subrogação? Nem pensar! Agora, vamos à pretensa sucessão. Fala-se freqüentemente (e até insistem com perguntas diretas aos médiuns respectivos) que seriam sucessores do meigo Chico os não menos sérios medianeiros e tarefeiros: o baiano e internacional Divaldo Pereira Franco, e os mineiros, ambos de Uberaba, Carlos A. Baccelli e Celso de Almeida Afonso, este natural de Araxá. Há algumas outras cogitações, mas inexpressivas e isoladas, daí ficarmos só com os citados.
Vamos ouvi-los diretamente sobre o assunto?
Primeiramente o incansável tribuno espírita Divaldo Franco (em entrevista dada a Diogo M. Vargas, transcrita na AN-Agora - AN UOL.com.br): AN = Muitos espíritas o consideram um sucessor de Chico Xavier. Como o senhor vê essa comparação?
Franco: “Inadequada. É o mesmo que comparar um artista plástico com um cientista. Ou um cantor de ópera com um compositor. Eles se completam mas têm tarefas diversíficas. Para mim, seria muito bom se tivesse os valores que ele tem. Chico Xavier concluiu sua tarefa de maneira muito perfeita e brilhante. É um médium escrevente por excelência, de uma mediunidade ímpar. Já escreveu 409 livros médiuns. A tarefa que eu me dedico tem outro caráter. Um dia ele me ousou uma imagem muito interessante. Disse que era alguém que ficava na toca e a pessoa ia até lá. Eu sou alguém que faz cutucar o leão na toca que ele está. Então estou mais exposto.”
E ainda, o mesmo Divaldo (em entrevista ao Jornal O POVO, de Fortaleza, reproduzida no Boletim GEAE: www. Geae.inf.br): OP - Há pessoas que o consideram sucessor de Chico Xavier. O que o senhor acha disso? - Divaldo: “Chico Xavier permanece como sendo o apóstolo da mediunidade, inigualável, como homem, médium e servidor cristão. Essa informação é totalmente destituída de legitimidade, porquanto, em Espiritismo ninguém sucede a outrem, cada qual desempenhando a tarefa para a qual reencarnou, mediante as possibilidades que lhe estejam ao alcance.”
Agora, o médium, escritor e orador espírita de Uberaba Carlos Baccelli (entrevista transcrita na página da Web da CANDEIA NEWS): Candeia: Dizem que você seria o sucessor de Chico Xavier. O que você pensa a respeito, e até que ponto isso ajuda ou atrapalha sua tarefa?
- Baccelli: “Ah, quem nos dera, a mim ou a quem tal pretendesse... Graças a Deus, as especulações da imprensa sensacionalista não nos alcançam nesse sentido, posto que, na presente existência, renascemos com um senso de autocrítica muito apurado e, se Chico Xavier se considera um “cisco”, nós simplesmente não existimos...
Conforme Camille Flammarion afirmou rente ao túmulo de Allan Kardec, a respeito das especulações em torno da sucessão do mestre, no caso de Chico também podemos dizer: a obra substituirá o obreiro!”
Por fim, o médium mineiro Celso de Almeida Afonso (entrevista dada ao Jornal da Manhã, de Uberaba, edição de 02/07/2002, reproduzida no site www.guiata.com.br): “Ontem o Jornal da Manhã entrevistou Celso Afonso, quando o tema sucessão foi questionado. Entretanto, Celso entende que “não há substituto para Chico.”

“JM – Qual sua definição sobre o médium Chico Xavier? -

CA – Ele é exemplo de amor. É muito difícil a gente conhecer de perto uma pessoa que nos transmita, como Chico, tanta certeza, tanta honestidade e bondade. Temos nele aquela criatura se entregando às outras, em comportamento visto por todos como a mais pura essência do amor.”
JM – Com a morte de Chico surge um questionamento imediato: a religião espírita vai sobreviver sem seu profeta maior? - CA – Deus é o mesmo, Jesus é o mesmo, religião espírita é a mesma e Chico é o mesmo.
A diferença agora é que Chico está fora do corpo físico, mas, tenho absoluta certeza, ele continuará perto de nós fazendo tudo aquilo que sempre fez, que é nos doar o trabalho, o carinho, a atenção e o amor que sempre nos doou.
Não é a falta do corpo físico que vai impedir que ele continue nos amando.
JM–Quem será o sucessor de Chico Xavier?
- CA – O próprio Chico Xavier.
 JM – Refiro-me ao sucessor, agora que ele deixou de estar encarnado.
- CA – Ninguém o substituirá. O próprio Chico sempre disse:
“Morre uma grama e nasce outra, mas não é a mesma grama”.
- JM – Quais os mais notáveis discípulos de Chico Xavier?
- CA – Aqueles que tentarem ser bons e ter o amor que ele sempre teve.”
Parece-nos que bastaria isso.
Mas, por serem tão enfáticas e oportunas, queremos fazer nossas as palavras do sensato e respeitado radialista, escritor e orador Amílcar Del Chiaro, ao analisar o assunto (em artigo publicado no site do Portal do Espírito, sob o título “Um Novo Ciclo”): “De há muito ouvimos indagações sobre quem seria o sucessor de Chico Xavier quando ele viesse a desencarnar.
E agora ele desencarnou e a questão continua na cabeça de muitas pessoas. Ao longo do tempo, desde dos idos anos 50, temos escutado que este ou aquele seria o substituto de Francisco Cândido Xavier. Naturalmente, cada grupo tem o seu eleito, o seu preferido.
O próprio Chico ao ser indagado sobre isto, dizia que ele era um montinho de grama, e envolta de um pé de grama nascem muitos outros.”
“Se levada a sério, a questão se apresenta grave. Contudo, ela inexiste.
Quando Kardec desencarnou ele foi substituído estatutariamente pelo vice-presidente da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, que nem de longe conseguiu ter a liderança, ou ser um segundo Allan Kardec. Somente através dos anos surgiu Léon Denis como a grande liderança espírita mundial, mas com outras características, porque eram outros tempos.
Esta comparação não tem nada a ver com a propalada tese da reencarnação de Allan Kardec, como Chico Xavier, na qual não acreditamos, embora respeitemos profundamente as pessoas que veicularam essa notícia.”
“Não há substituto para Francisco Cândido Xavier, porque com a sua desencarnação encerrou-se um ciclo do Espiritismo, e é obrigação nossa, de todos os espíritas, iniciar um outro ciclo.
É hora de cada espírita assumir a sua responsabilidade e fazer a sua parte. É hora de terminar as dependências a este ou aquele médium e caminhar com os nossos próprios pés. É hora de terminarmos com as romarias a este ou aquele "santuário" espírita, a não ser que ali se vá para trabalhar ou ajudar.”
Em abono às mesmas conclusões, trazemos as irreverentes palavras do radialista e escritor espírita Alamar Regis, como é sempre do seu estilo direto, contundente e seco (no site www. Panorama Espírita.com):
“6) Sucessor de Chico Xavier: Foi uma tremenda maluquice aquela postura da imprensa, quando Chico Xavier morreu.
Todo mundo falando em sucessor, como se o Espiritismo tivesse Vaticano, capela sistina, cardeais e coisas parecidas. Por que a imprensa tem que compará-lo sempre com outras religiões, mais intensamente com a Igreja Católica?
É algo que precisa ser revisto, gente. Não tem sentido. Apontaram muito o nome de Divaldo Franco, como sucessor do Chico. Tremendo absurdo.
Divaldo nunca quis isto, não existe isto no Espiritismo, não tem chefe, não tem dono, apesar de alguns dirigentes de centros espíritas se portarem como donos dos centros, e que adoram dar ordens, estabelecer determinações, em absoluta contradição com a doutrina, embora digam que o fazem em nome da disciplina.”
E, ainda a palavra do escritor espírita C. T. Rizzini sobre o assunto: “Esse, o fantástico missionário que partiu há um ano para a Espiritualidade Maior após presentear o Movimento Espírita Mundial com obra nunca vista nem sonhada por outro médium. Um patrimônio espiritual tão vasto, tão profundo e tão diversificado que se torna ridículo alguém apresentar-se como “substituto” de Chico Xavier...”
(Texto originalmente publicado pelo “Correio Fraterno” – Publicação da Editora Espírita Correio Fraterno do ABC – Ano XXXIV – nº 393 – Outubro de 2003 – página 12).
Para finalizar, as excelentes observações do culto e denodado divulgador espírita Miguel Pereira (Jornal Espírita Auta de Souza, setembro de 2002, n. 83): “Pessoas estão nos perguntando: Quem será o substituto de Chico Xavier?
Analisando a história da evolução humana, pudemos concluir que ninguém substitui alguém nas tarefas dos grandes missionários.
Moisés, o grande legislador e médium, não precisou ser substituído, para que o judaísmo permanecesse firme por muitos milênios...
Sócrates, o precursor do cristianismo, não foi substituído por ninguém e os seus conceitos são respeitos e seguidos até os dias atuais...
Jesus, o Mestre dos Mestres, é cada vez mais amado pela humanidade, sem que necessitasse ter um substituto... Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita, não precisou de sucessores para que o espiritismo alcançasse estágio tão elevado, não só no Brasil, como em muitos outros países...”
Do mesmo modo Chico Xavier, não precisa de sucessores, nem de substitutos para que as suas obras sejam reconhecidas e seguidas, hoje como no futuro... Mas, se alguém surgir como candidato a substitui-lo, deverá apresentar em seu curriculum:
- Extrema bondade no coração: Capacidade de amar os inimigos;
- Preparo físico para trabalhar 22 horas por dia em favor do bem;
- Esquecer de si mesmo, a favor do próximo, em tempo integral;
- Ser um fiel seguidor de Allan Kardec; Além de toda bondade para com o próximo, terá que realizar algumas tarefas não muito simples...
- Ser capaz de engolir uma barata que surgisse na sopa, para evitar constranger o amigo que a ofereceu. Chico Xavier engoliu...
- Lamber uma ferida que alguém julgou pudesse curar um enfermo. Chico Xavier lambeu...
- Suportar calunias e perdoar o caluniador. Chico Xavier perdoou...
- Num encontro fraternal, colocar no colo um cão todo enlameado, que o público chutasse, tentando livrar-se dele. Chico Xavier fez isto...
- Realizar culto do Evangelho no Lar para as prostitutas, num prostíbulo. Chico Xavier realizou...
- Viver em quase extrema pobreza e recusando-se a receber milhões de reais de direitos autorais de 412 obras mediúnicas. Assim viveu Chico Xavier...
Enfim, poderíamos concluir dizendo o seguinte:
Se o candidato tiver capacidade de realizar todas as tarefas aqui expostas, estará demonstrando grande elevação espiritual e nesse caso, deixará de querer substituir Chico Xavier, para ser simplesmente... Um Servidor de Jesus.”
Bem, achamos que ficou comprovado que de sucessores o Chico não precisa, nem ninguém deve se arrogar tal título e jamais o Espiritismo recomendaria ou endossaria.



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