terça-feira, 1 de março de 2011

ENTREVISTA SOBRE O CARNAVAL (RAUL TEIXEIRA)


Daqui a alguns dias, mais propriamente sete dias, estaremos presenciando uma das maiores aberrações já vista por pessoas de bom senso e de moral. Refiro-me ao Carnaval, que como o próprio nome diz representa a festa da carne  onde A CARNE NADA VALE!

Sei que alguns me acharão retrógrado, careta, “metido” a espiritualizado e coisas assim, por definir dessa forma essa festa pagã, sinceramente não os culpo, nem os julgo ou condeno.

Todos somos detentores do livre-arbítrio: Graça divina que nos oferece a possibilidade de fazer tudo o que queremos e que nossos instintos espiritualizados ou animalizados nos chamam a atenção para praticar, mas também nos alerta o Criador de que seremos responsáveis por nossos atos, palavras e até mesmo pensamentos, nas palavras de Jesus.

É... esses dias serão de muito prazer para uns, de preocupação para outros e de insuportáveis desesperos para alguns que teimam em querer levar uma vida compromissada com Deus e com o próximo, mesmo que isso lhes custe a indiferença, a perseguição e até mesmo a execração pública, porque – dirão alguns mais “socializados” – “onde já se viu alguém pensar assim em pleno século XXI, onde as conquistas pessoais chegaram ao cume e as liberdades sociais, raciais e sexuais estão aí para todos verem como nós “seres humanos” evoluímos?!!!...”

Algumas pessoas realmente acreditam no que foi dito acima e fazem disso o estandarte de suas vidas, levantando a bandeira da suposta igualdade e liberdade para promoverem a desigualdade e a libertinagem.

Diz o ditado popular: “cada cabeça uma sentença”. E, em certo sentido, está coberto de razão, pois somos todos responsáveis individualmente por nossos atos, mas alguns se esquecem de que se nosso comportamento for “causa de escândalo” para que nosso irmão tropece, também seremos responsáveis pelos danos causados, moral e espiritualmente a esses infelizes irmãos que confiaram e deliberadamente decidiram seguir nossos atos e conselhos.

Sei que muitos que condenam durante todo o ano a prostituição, a disseminação das drogas e reclamam da insegurança que vivemos em todos os níveis e locais desse país, serão os primeiros a se deleitarem ante as imagens “artísticas” que essas “escolas” de samba proporcionarão a seus espectadores.

Nesses terríveis quatro dias, que parecerão quatro décadas, muitos perderão a vida; crianças serão geradas em meio aos devaneios sexuais, movidos a drogas lícitas ou ilícitas a que muitos se entregarão; famílias serão desfeitas, lares serão abalados e um sem número de homens e mulheres contrairá débitos espirituais que levarão muito tempo para se desarraigarem de seus corpos espirituais.

É... talvez eu seja careta e retrógrado mesmo, mas observemos as palavras de alguém que não tem os mesmos conceitos que eu, mas é alguém reconhecidamente equilibrado e respeitado não apenas no meio espírita, mas entre todos de bom senso. Vejamos as palavras de Raul Teixeira, eloqüente orador espírita sobre a sua opinião acerca do Carnaval, publicada no Jornal Mundo Espírita, edição de Fevereiro de 1988.

1 — O que significa para você o Carnaval, diante do mundo?

R — Valendo-me da expressão de um Benfeitor Espiritual, direi que, para mim, o Carnaval é aquele fruto apodrecido, do qual ainda não soubemos retirar a mensagem de advertência, de atenção e vigilância, observando, ao longo do tempo, a semente infeliz que há germinado nas almas incautas, gerando colheitas de decepções e dores de elevada monta.

2 — Como você melhor colocaria o Carnaval: como um mal para o homem que preza a elevação da moral, ou um remédio para o homem asfixiado pelas lutas amargas do cotidiano, necessitado de extravasar seu psiquismo?

R — Verdadeiramente, o Carnaval, como se vem apresentando, representa um mal não apenas para o homem que busca evoluir moral e espiritualmente, como também para os demais ainda apegados às sensações físicas muito mais que às emoções sutis, que só a pouco e pouco o Espírito vai desenvolvendo.

Reconhecemos que a alegria, a descontração, as expansões dos júbilos entre as criaturas humanas funcionam como excelente válvula de escape para as tensões diárias, fomentando a tranqüilização da alma, quanto o reequilíbrio das funções psíquicas. Contudo, não é o que estamos observando na estrutura carnavalesca. Encontramos isso sim, a perversão, a enfermidade espiritual que jorra absolutizando a loucura que campeia desenfreada, devassando e infelicitando. Não creio que ao homem mais simples, porém, de bom senso, isso lhe pareça extravasamento para os júbilos anelados, senão desbordamento das paixões inferiores que mais fazem amargar seu cotidiano. já, de si mesmo, tão amaro.

3. – Por ser uma festa de cunho material, somos induzidos a pensar que a maioria dos participantes não sejam religiosos. Dado que o ser humano precisa dissipar as energias acumuladas, não poderíamos, então, classificar o Carnaval como “um mal necessário”, pois, sem ele, que permite extravasar, e sem a religião, que permite equilibrar essas cargas energéticas, os homens, inevitavelmente seriam levados a atitudes agressivas ou neuróticas no dia-a-dia?

R – A mim me parece que tudo isso não passa de tenebroso sofisma. Vamos por partes, a fim de expressar-me melhor.

O Carnaval não é somente uma festa de cunho material, como se poderia supor. Ele é profundamente espiritual, só que a faixa espiritual, em que se situa, é a dos Espíritos infelizes que se locupletam com os desejos e usanças daqueles outros que, embora encarnados, ajustam-se aos apelos do Além infeliz, servindo-lhes de alimárias ou de vasos nutrientes, onde as sombras babejam e triunfam por momentos. Está claro, com isso, que os que se banqueteiam nesse festim, embora se digam religiosos, só o são na fachada. Não aprenderam que não se pode servir a Deus e a Mamon, que ser religioso é assumir um compromisso com a própria consciência. Não foram advertidos por seus líderes que tais festividades momescas tiveram seu incremento nas orgias templárias da Velha Roma. do mundo antigo, nas loucuras das homenagens aos deuses Lupércio, Saturno. Baco etc., ditas festas em que não faltavam a luxúria, os excessos de toda ordem, do prato às explorações sexuais, determinando miséria moral e material, como enorme soma de sofrimentos.

Por outro lado, meu companheiro, se me é dito que o Carnaval é o extravasador e que a Religião é equilibrante, creio que, em boa linha, nos quedaríamos com a Religião. Entretanto, a grande parte escolhe a descarga carnavalesca.

O que vemos é que, muito embora se afirme ser o Carnaval um extravasador das tensões, não encontramos diminuídas as taxas de agressividade e de neuroses, que infestam nossas cidades, as mais diversas, dando-nos, isso sim, um somatório de violência urbana, de infelicidade familiar como jamais ocorreu no mundo contemporâneo. Creio que devamos repensar a questão do Carnaval, a fim de não desculparmos o que é indesculpável, pelo menos na conotação que se lhe dá atualmente.

4. No campo físico, já conhecemos algumas das conseqüências do “reinado do Momo”, como por exemplo, a proliferação dos abortos, o aumento da criminalidade, múltiplos suicídios, o incremento do uso dos tóxicos e de bebidas alcoólicas, assim como o surgimento de novos viciados, e muitas outras. O que você citaria como conseqüência no campo espiritual?

R - No hemisfério espiritual, encontramos por conseqüências todas as decorrentes dos excessos e erros e crimes apontados na sua pergunta. É mais um testemunho de que as “alegrias de Momo” não são tão alegres como parecem e que, ao invés de descontrair, muitos são traídos pela invigilância, pela irreflexão, pela imoderação.

5 - Estaria sujeito às influências negativas o indivíduo que, não se integrando aos folguedos, saísse à rua, apenas para assistir aos desfiles, ou mesmo para, simplesmente, apreciar os acontecimentos?

R - Os Espíritos do Senhor orientam-nos, através da Doutrina Espírita, que Deus vê as intenções nossas. Jesus Cristo, por seu turno, diz-nos, em Lucas 6:45, que onde estivesse o nosso tesouro, aí estaria o nosso coração, dizendo, sem dúvida, que nos deslocaríamos em espírito para aquilo a que déssemos valor. Há um provérbio popular que prega que quem sai na chuva é porque deseja molhar-se... Entendemos que, se tomamos conhecimento do que está ocorrendo nas ruas e nos clubes, se nos damos conta das nossas próprias tendências pouco recomendáveis, na condição de “homem-velho” da referência paulina, há que pensar um pouco, antes de nos expormos às ruas, ainda que seja para assistir.

6. — Como você acha que o cristão-espírita deve proceder diante do companheiro que se mostra favorável ao evento?

R — Como deve proceder com qualquer um que não nos compartilhe os conceitos e idéias, ou seja, respeitando-o, compreendendo-o, sem, contudo, permitir que ele nos “faça a cabeça”, usando uma expressão muito em moda.

7 - Que atitude se poderá tomar para mantermos nossos filhos, ainda crianças, quando não livres da influência, pelo menos livres da fascinação que o Carnaval exerce sobre eles?

R — Entendemos que a família tem fundamental importância em tudo isso. É a velha questão tão educacional que vem à tona, Se os pais não freqüentam os festejos carnavalescos; se os pais aproveitam os dias dos feriados de tais festas para o descanso, para a convivência familiar harmoniosa e boa; se sabem conversar com os pequenos sobre a improcedência de nos arrojarmos a tais loucuras, exemplificando com a própria conduta o que diz, não vemos por que os filhos ficariam fascinados com Momo. Se mesmo diante do exemplo e dos informes e esclarecimentos eles o desejarem, deverá prevalecer o bom senso dos pais, não o permitindo, até que os pequenos de hoje conduzam as suas experiências de vida, fazendo o que bem entenderem; porém não antes de serem devidamente educados para viverem o bem que todos buscamos.

Muitos pais afirmam que soltaram seus filhos por causa das pressões de vizinhos, de familiares outros, dos colegas etc. Não se lembram, entretanto, os pais espíritas, que estamos diante dos graves compromissos com Espíritos ligados a nós, pelos vínculos reencarnatórios e que teremos que prestar contas da orientação e da condução que lhes tenhamos dado. sem que isto pese nos ombros dos demais, pelo menos a princípio. Tomemos por compromisso de honra a condução dos nossos, deixando de lado admoestações e zombarias, motejos e incompreensões, porque somente o tempo dirá do nosso acerto, com o salário da paz e da alegria.

8 — Com relação aos nossos Centros Espíritas, é válido fechar as portas nos dias do Carnaval, ou mudar o procedimento das reuniões?

R — Realmente, seria muito bom se pudéssemos continuar nossas atividades doutrinárias, em nossas Instituições, exatamente porque são os dias em que mais necessárias se fazem as preces e as vinculações com os Bons Espíritos, por múltiplas razões, bem óbvias, por sinal. Entretanto, não deveremos olvidar que grande parte dos Centros estão em locais de muito movimento carnavalesco e que, ainda que não estejam, os companheiros das tarefas deverão deslocar-se de seus lares, atravessando o tumulto e as dificuldades, se ampliam com os riscos de variada monta para os passantes. E is a razão porque, costumeiramente, se interrompem os trabalhos nos Centros Espíritas nesses dias, o que não representa que devamos deixar de orar e vigiarmos, onde e com quem estivermos, servindo como antenas de nobres inspirações e assistência necessárias, como verdadeiros cristãos que desejamos ser.

Fonte: Jornal Mundo Espírita - Fevereiro/1988

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