segunda-feira, 26 de abril de 2010

O MENTOR DENTRO DE NOS

Silêncio.

Silêncio na mente e no coração é a prova maior de que um mentor, amparador, instrutor, ou qualquer outra presença benfazeja está junto de vocês.

Qualquer incessante tagarelar, seja ele de que qualidade for, mesmo aquele que nos dá as instruções mais preciosas, não se compara com a bênção do silêncio, esta monumental prova de amor e confiança que um irmão do outro lado, e até mesmo deste, pode nos dar.

É bem engraçado que seja eu a dizer isso, uma vez que alguns dos que me conhecem, sabem que vejo, ouço, e até, (vejam só!) empresto meu corpo para que alguns desses seres possam se comunicar com quem precisa ou simplesmente deseja fazê-lo.

Por mais paradoxal que seja, por mais que me façam bem essas experiências, que aos olhos de alguns podem parecer fantasiosas - e, quem sabe não sejam mesmo, não é? - e até por causa da familiaridade que tenho com esses fenômenos que nunca busquei, mas que vieram a mim sem que eu quisesse ou rejeitasse; obediente que sou aos desígnios sagrados ou mesmo aos não tão sagrados assim, posso garantir a todos vocês, que o silêncio que sentimos dentro de nós quando eles se aproximam, é o melhor de tudo

Talvez seja porque o silêncio é a mais inequívoca demonstração de respeito, ou reverência entre os seres, seja nesse nosso planetinha insólito, ou em qualquer outra dimensão ou universo.

E, ainda, porque a reverência seja a única forma de expressão ou comunicação que sobra, quando todas as outras falham ou não são compreendidas.

Isto sem considerar que quando um mestre, amparador, instrutor, guardião, cavaleiro jedi, ou coisa qualquer do gênero, aproxima-se de nós, o que ele pretende é nos ajudar a estabelecer contato ou sintonia, não com eles, mas com algo muito maior do que eles, muito maior do que nós, ou do que qualquer individualidade: o todo, o um, o único, o incriado, o que não teve começo e jamais terá fim.

E para que esse tal de Todo seja percebido, mesmo em sua mais tosca manifestação, o silêncio interior - e o exterior também - se faz necessário.

- Quando não podemos dizer nada de bom a uma pessoa, devemos ficar calados.

Esta é uma regra de ouro que aprendi aos seis anos de idade e que jamais esqueci. Talvez porque - desconfio - não seja apenas uma regra boa para a convivência pacífica entre os humanos, mas, também, um item básico de para-etiqueta.

Eu vivo repetindo que a árvore se conhece pelos frutos. Repito, porque não é idéia minha. Foi algo que aprendi com aqueles que pouco falam, mas que quando falam, sempre têm algo amoroso e construtivo a dizer.

Se algum de vocês quiser mesmo ver, ouvir e conversar sem intermediários com seus guias, mestres, amparadores, instrutores, anjos guardiões, ou seja lá que tipo de ser estejam atraindo para seus círculos-não-se-passa, por favor, meditem.

Percam alguns minutos permanecendo quietos, sozinhos, olhos abertos ou fechados - tanto faz - sentados, com a coluna ereta, e as solas dos pés bem plantadas no chão.

Dirijam sua atenção ao único evento físico-químico que garante a sua ligação com o mundo espiritual - a respiração.

Repitam isso sempre que puderem ou quiserem - e um dia - para além de toda aparição sublime, excitante, assustadora ou satânica, experimentarão a manifestação mais verdadeira da Divindade: o silêncio.

Não o que se pode sentir com as orelhas, mas o que se instala como cristal em seus pensamentos e em seu coração.

E quando chegarem a ele, entenderão o quanto a aparência, ou as palavras, por mais incríveis que pareçam, no fundo e ao cabo, no além e ao raso, não significam nada. Ou quase nada.

Entenderão porque a maioria dos seres de Luz que nos cercam reluta tanto em falar.

Como tudo o que é sagrado, ou carregado de força criadora, a palavra é um instrumento. Dependendo da intenção com que é pronunciada, ou escrita, pode ferir ou curar. Construir ou destruir. Bendizer ou amaldiçoar.

É bem possível que muito antes de experimentarem o silêncio em seus corações e mentes, um outro fenômeno muito saudável lhes aconteça - começarão a calar.

Serão elogiados e se calarão. Serão provocados e se calarão. Serão ofendidos e se calarão. Serão humilhados e se calarão.

E, quando, afinal, se sentirem tomados pelo desejo de abrir a boca, algo mais do que aquilo que pensam ou imaginam dizer, se manifestará.

Então, mais do que quando virem ou ouvirem, terão certeza de que não estão sozinhos.

Em suas mentes e corações, o mestre, o amparador, o instrutor, o guardião, o cavaleiro jedai, o caboclo, o guia, o animal de poder, o Iniciado, estará desperto, e disponível, não uma única vez, mas sempre que precisarem.

terça-feira, 20 de abril de 2010

CELIBATO

P.Moryah.
O celibato é o estado da pessoa que, por opção, não contraiu matrimónio seguido ao mesmo tempo da abstinência sexual.

Nem todas as pessoas são portadoras de uma condição moral que lhes dê o suporte para assumir esta condição de vida.

Apenas alguns Espíritos podem assumir esta renúncia sem que isso lhes cause descompensações emocionais.

O celibato, em si mesmo, não é um acto meritório. No entanto, quando a opção é tomada em prol da Humanidade e com fins elevados de utilidade no bem colectivo, isento de egoísmo, o mesmo pode sê-lo.

Há exemplos dentro do movimento espírita que seguem ou seguiram por LIVRE ESCOLHA este caminho, como é o caso de Divaldo Pereira Franco ou Chico Xavier.

Fora desse âmbito temos os casos de pessoas como Irmã Dulce, Maria Teresa de Calcutá ou São Francisco de Assis.

Há inclusive, na área científica, os que renunciaram à vida conjugal em benefício da Humanidade.

Nestes missionários, o fluxo das energias criadoras não se viram estancados, sendo elas dirigidas ou canalizadas para outros objectivos igualmente nobres.

Devemos considerar também o fato de que a união conjugal com base no amor é, em si própria, uma missão de elevado teor.

Para além disto, o casamento, união de fato ou união livre (a cada um lhe cabe a sua escolha) pode fazer parte do panejamento reencarnatório com base em compromissos assumidos, para além da própria família.

Vejamos o caso do codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec, que casou com Amélie Gabrielle Boudet.

Ela foi de suma importância no trabalho que Rivail viria a desenvolver, colaborando activamente no trabalho da codificação, sofrendo igualmente perseguições por parte dos “inimigos” do Espiritismo, assumindo posteriormente responsabilidades de elevada importância no movimento espírita.

Entretanto sabemos que não tiveram filhos, situação que facilitaria a dedicação full-time à missão espírita.

O celibato imposto tem levado muitos bons religiosos a abandonar as fileiras do sacerdócio. Outros tornaram-se profundamente infelizes, cedendo por conveniência ou duvidosos interesses a pressões sociais ou familiares. No pior dos casos acabam caindo em desregramentos sexuais, desprestigiando os movimentos religiosos a que se ligaram, causando desarmonia, perturbação e sofrimento nas vítimas que lhes alcançam, e neles próprios.

A imposição de forma geral, tende a não considerar as necessidades íntimas de cada indivíduo.

Além do mais, não só atenta contra as Leis Naturais quando, por efeito, decorre-se o risco de fazer ainda mais vítimas.

O CRISTO E A CRUZ


Discípulos sinceros do Evangelho acreditam, na atualidade, que a simbologia do instrumento no qual o Mestre padeceu no Orbe, oferecendo-nos o máximo testemunho de amor, não mais tem razão de ser evocado, não merecendo maiores considerações.

Não obstante, a cruz permanece como o ômega de qualquer compromisso para com a Verdade, enquanto se transita na Terra.

Antes dEle, era a expressão máxima do desprezo a que se relegavam as vidas que ali finavam.

Ladrões e assassinos, delinquentes em geral sofreram-lhe a imposição sob o escárnio das massas açodadas pelo ódio e comandadas por interesses inferiores dos quais não se podiam liberar...

Ele também sofreu zombaria e o desprezo do poviléu açulado pelos agentes da loucura, todavia, o seu era o crime de amar a criatura, que assim mesmo o hostilizou.

Depois dEle, as duas traves emolduraram-se de fulgurante luz que atrai quantos sentem a necessidade de
 crescer, imolando-se em gesto de amor.

Certamente, que já não se levantam cruzes nos montes das cidades modernas, alucinadas pelas paixões desgovernadas; apesar disso, não são poucos aqueles que se entregam em holocausto pelo Cristo, em cruzes invisíveis, incontáveis.

Ei-los, atados à renúncia, abraçando a abnegação em clima de doação total;

são inumeráveis aqueles que se deixaram cravejar nos madeiros da humildade, não revidando mal por mal, incompreendidos, mas ajudando, perseguidos, entretanto, desculpando;

estão milhares carregando cruzes não identificadas de sacrifício pessoal pela Causa do Cristo, sem darem importância aos transitórios valores terrenos;

sorriem incontáveis espalhando esperança e otimismo, sob cruzes de dores sem nome, não conduzindo queixas nem desanimando nunca;

cruzes que surgem como enfermidades soezes, que dilaceram as carnes da alma, enquanto consomem o corpo;

cruzes de calúnias bem urdidas, que vão urdidas com esforços hercúleos;

cruzes outras em forma de prazeres não fruídos, que se transformam em labores em favor dos outros;

cruzes pesadas, na representação de expiações redentoras como de provações lenificadoras, favorecendo o futuro da própria criatura...

Essas são as cruzes que o amor transforma em estrada luminosa, concedendo as asas para a angelitude.

Há, também, as cruzes a que muitos homens espontaneamente se prendem e experimentam o flagício que elegem, sem qualquer conquista de bênçãos.

Com os cravos do egoísmo fixam-se às traves fortes dos vícios e das paixões infelizes de que somente a penates de dor e desespero, em largo prazo se desprendem, para, então tomarem a cruz de triunfo.

-Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo - acentuou o Cristo - tome a sua cruz e siga-me.

O Cristo e a Cruz do amor são os termos sempre atuais da equação da vida verdadeira, sem os quais o homem não logrará a Liberdade.

Espirito: Bezerra de Menezes

sábado, 17 de abril de 2010

CENTRO ESPIRITAS DE ICOARACI




TRABALHO DE MACUMBA

«Peço ajuda para quem souber uma prece, estamos sendo vítimas de tentativa de possessão, por trabalhos de macumba que lançaram sobre nossa casa (...)» - escreve uma leitora.

Cara amiga,

Os Espíritos, sejam eles bons, maus ou "assim-assim", são apenas pessoas como nós. Não existem demónios, nem coisa que o valha.

Consequentemente, não existem orações, nem amuletos, nem defumadouros, nem benzeduras, nem nada de material que possa actuar sobre eles.
Ou seja:

Nós não podemos obrigar os maus Espíritos a afastarem-se de nós, nem podemos obrigar os bons Espíritos a aproximarem-se.

Qual é a solução, então?

É relativamente simples. Em vez de querermos afastar os maus e atrair os bons, façamos o contrário: procuremos a companhia dos bons, e evitemos a companhia dos maus.

Como?

Não dando qualquer valor às práticas de feitiçaria que eventualmente alguém nos possa dirigir.

magia negra é uma prática que teve origem em épocas de escravatura. Os escravos, encontrando-se indefesos perante as crueldades dos seus captores, faziam alianças com Espíritos maus, no sentido de obterem vingança. Hoje em dia, essas práticas ainda persistem, infelizmente.

Mas vivem essencialmente do medo! Os Espíritos que são "pagos" para prejudicarem a pessoa A ou B, só conseguem fazê-lo se a vítima estiver fragilizada pelo medo. E não há que ter medo, repetimos.

Se mantivermos um comportamento moral de padrão elevado, se nos mantivermos sintonizados na prece e na boa leitura, os Espíritos malfazejos, não só desistem de nos fazer mal, como acabam por não conseguir aproximar-se, sequer, de nós.

"Orar e vigiar" - recomendava Jesus. Orar é falar com Deus, para pedir, louvar e agradecer, por palavras nossas, simples. Vigiar é estarmos atentos ao nosso comportamento, para evitarmos ao máximo errar, prejudicar os outros, ou deixarmos de lhes ser úteis.
Orando e vigiando, afastamos os maus Espíritos e atraímos a protecção do bons Espíritos.

Raciocine connosco: algum desses Espíritos pode mais que Jesus? É claro que não! Então, não há que hesitar, e seguir as palavras de Jesus, não fazendo caso de feitiçarias e maldições que nos possam lançar!

Sobretudo, não pague a "vendedores de milagres", sejam eles médiuns comerciantes, magos de vão de escada, ou pseudo pastores evangélicos que vêem o diabo a cada esquina (e o dízimo a espreitar, da algibeira das ovelhas...). Onde lhe pedirem dinheiro por ajuda espiritual, há negócio. E negócio com as coisas de Deus, é, na nossa maneira de ver, um erro crasso!

Se desejar, procure  UM CENTRO ESPIRITA MAIS PROXIMO

E lembre-se de que os inimigos de hoje (sejam eles deste mundo ou do outro), serão os grandes amigos de amanhã. Oremos por eles, que bem precisam.

P.Moryah.

CORAÇÃO QUE HOUVE

P.Moryah.

Você já pensou que só pelo simples fato de ouvir alguém, podemos ajudá-lo a se curar? Ouvir, é um dos nossos cinco sentidos, SIMPLESMENTE OUVIR! Colocar-se à disposição do outro para escutá-lo. Ficamos com situações ou pessoas entaladas na garganta, apertando e barrando o fluir da criatividade expressiva. Ou, quando engolimos, desce raspando, e cai como uma bomba no estômago, causando ulcerações inclusive físicas. Quando podemos expressar, ficamos mais leves, e aptos a enfrentar todos os obstáculos. Ao recusarmos ouvir o outro, criamos divisão, separação, e permanecemos na dualidade, causando mais dor e sofrimento. A arte de saber ou vir foi ressaltada na história do Rei Salomão.

A versão mais conhecida é que o jovem Salomão pediu sabedoria a Deus e, por isso, ganhou fama universal em função da grande virtude que lhe foi concedida. Mas, os fatos não foram exatamente esses. Salomão, na verdade, não pediu sabedoria. A palavra compreensivo, em hebraico, é "shama", que significa ouvir, escutar, obedecer. Shama não é sabedoria. "Salomão, implorando a proteção divina, quando empossado ainda moço disse: "Sou ainda menino e tenho que governar um povo numeroso, e recorreu ao Senhor para que o orientasse. Foi ouvido: "Já que não pediste grandezas, nem a morte de teus inimigos, terás um coração tão sábio que antes de ti, nem depois de ti, ninguém te igualará. E terás riqueza e glória como nenhum outro rei jamais teve ou terá". E o que Salomão pediu foi: Um coração que ouve!

É uma carcterística rara hoje em dia, entender o que os outros falam e saber ouvir. Ouvir algo como é dito é a coisa mais difícil, pois, a maioria escuta o que quer e quando quer, não o que o outro está tentando dizer. Quem não tem na família alguém com deficiência auditiva, porém, quando conversamos perto dele(a) de repente a pessoa responde, e nós, nos admiramos: nossa... pensei que não ouvisse!

Usamos as nossas vivências, padrões e crenças como radares na mente e interpretamos o que o outro fala, de acordo com isso e nem percebemos as reações emocionais daquele que está se expressando, o que poderia fazer toda a diferença na compreensão de sua comunicação. Às vezes, o sofrimento é tão grande, que a pessoa fala uma coisa, e suas expressões corporais indicam outra. O simples fato de conseguir ouvir o outro, poderia mudar o destino muitas vezes traçado pela nossa insana rigidez. Aprenderíamos com suas experiências sem ter que passar por elas e ficaríamos preenchidos de generosidade, compaixão, e gratidão pela oportunidade criada. E, quanto sofrimento poderia ser evitado na nossa própria vida, se déssemos essa oportunidade ao próximo e a nós mesmos?

Nas situações difíceis nos sentimos sem rumo, sem saída, e com dificuldade para compreender o que está criando o caos. Dentro de uma situação caótica não é sinal de fraqueza sentirmos medo, insegurança, desamparo, e , se pudermos expressar toda a dor, reconheceremos estes sentimentos, criando oportunidade de transformá-los. São momentos, que precisamos do apoio daqueles que estão conosco no caminho da vida, e a melhor maneira de fazer isso no processo de cura é ser um bom ouvinte.

Saber ouvir é uma dádiva divina! A divindade não desaprova. Não é intelectualmente orgulhosa. Tem a paciência necessária com aquele que está tentando se expressar, e que muitas vezes não sabe fazê-lo, porque não aprendeu, não teve chance. Mas, para isso temos que ser humildes e exercer a arte da sensibilidade, da captação correta daquilo que o outro está dizendo para nós, compreendendo que ele se baseia na experiência de vi da que teve! E tem que ter muita tolerância, humildade e equilíbrio emocional para entrar na energia do outro, mantendo as nossas fronteiras psíquicas. Ouvir é a dádiva divina que nos permite manifestar amor, respeito, ternura, dedicação, afeto e amizade. Mas, sem a humildade julgamos! E todos querem ser ouvidos e tem o direito a expressar-se. Só perde esse direito aquele que o faz para agredir, para magoar, para ferir, sem um propósito de auxílio, mas, achando que "esse é o jeito dele" e os outros tem que aguentar.

"Na Hierarquia da Luz, Metre Confúcio diz: Meus amigos, seguidamente vos alertamos: deveis ser deuses em atividade - homens puros com todas as forças latentes... Aqui em vossa vestimenta física podeis ser perfeitos. Os passos que vos separam desta meta são fáceis de superar se derdes vossas mãos às Mãos de vossos Amigos da Luz. Todo vosso conhecimento é suficiente para alcançardes esta meta. O Plano Divino em vosso coração pode concret izar-se. A Força para isso está ao vosso dispor... O ponto culminante no Templo da Precipitação é saber escutar. Sois disciplinados a manter silencio, concentrando-vos em Vosso Plano Divino e a ouvir aquilo que é necessário escutar. Aqui, nos mundos internos, na freqüência de vibração mais acelerada, isto é possível. Levai o exercício à vida cotidiana..."

A arte de saber ouvir é o caminho para o entendimento, para o amor e inclusive para a tão almejada prosperidade que todos querem e precisam. No entanto, ela depende de nós pararmos para ouvir o outro, e, por quê? Porque quem não ouve seu semelhante não ouve também a Deus! O Pai nunca se manifesta de maneira direta, pois quer que nós aprendamos a refletir e tomar decisões sozinhos para que assumamos a responsabilidade, então a vida, Deus em ação, manda seus recados através do outro, muitas vezes uma criança fala para nós aquilo que precisamos ouvir. Por isso, perdemos enormes oportunidades não ouvindo. Quando não serenamos a mente para ouvir deixamos também a intuição passar desapercebida e, dessa maneira, não entendemos as mensagens divinas. Com certeza, quem não sabe ouvir perde muitas oportunidades de crescer e evoluir.

Preencha seu coração de luz, de amor e paciência e conquiste a dádiva de ser um coração que ouve, pois ele estará bem perto de Deus!








quarta-feira, 14 de abril de 2010

VISÃO DO SOCIAL ESPIRITA

Espiritismo e Evangelho

1. Diz-nos Emmanuel: "O Espiritismo, sem Evangelho, pode alcançar as melhores expressões de nobreza, mas não passará de atividade desti¬nada a modificar-se ou desaparecer, como todos os elementos transitó¬rios do mundo. E o espírita, que não cogitou da sua iluminação com Je¬sus Cristo, pode ser um cientista e um filósofo, com as mais elevadas aquisições intelectuais, mas estará sem leme e sem roteiro no instante da tempestade inevitável da provação e da experiência, porque só o sentimento divino da fé pode arrebatar o homem das preocupações infe¬riores da Terra para os caminhos supremos dos páramos espirituais" (O Consolador, item 236).

2. Aludindo ao ensino moral contido no Evangelho, Allan Kardec pondera: "Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É o terreno em que todos os cultos podem encontrar-se, a bandeira sob a qual todos podem abrigar-se, por mais diferentes que sejam as suas crenças. Porque nunca foi objeto de disputas religiosas, sempre e por toda parte provocadas pelos dogmas. Se o discutissem, as seitas te¬riam, aliás, encontrado nele a sua própria condenação, porque a maio¬ria delas se apegou mais à parte mística do que à parte moral, que exige a reforma de cada um. Para os homens, em particular, é uma regra de conduta, que abrange todas as circunstâncias da vida privada e pú¬blica, o princípio de todas as relações sociais fundadas na mais rigo¬rosa justiça. É, por fim, e acima de tudo, o caminho infalível da fe¬licidade a conquistar, uma ponta do véu erguida sobre a vida futura" (O Evangelho segundo o Espiritismo, Introdução, item I).

3. Diante de tais ensinamentos, não se concebe falar em assistên¬cia social espírita sem evangelização, porquanto ensinar a Doutrina Espírita direcionando o indivíduo para a prática dos ensinos do Cristo é favorecer-lhe o caminho da felicidade. Existe objetivo mais nobre do que esse? O objetivo da assistência social espírita não é, portanto, como muitos pensam, tão-somente saciar corpos perecíveis, mas iluminar consciências, formar indivíduos saudáveis do ponto de vista físico, psicológico e espiritual, fazer homens de bem, porque "o homem que se ilumina conquista a ordem e a harmonia para si mesmo" (O Consolador, item 234).

O Serviço Social no plano espiritual

4. A assistência social espírita, que constitui, na história do movimento espírita brasileiro, um dos capítulos mais fecundos, não se limita ao plano dos encarnados, porque essa preocupação é freqüente também nas províncias espirituais adjacentes à Crosta. Diz Lúcia Lou¬reiro (in "Colônias Espirituais", pág. 43): "Nas Colônias Espirituais, o Serviço Social possui um vasto campo de ação no desenvolvimento das atividades. Desde as entrevistas iniciais até o encaminhamento em ex¬cursões para estudo e observação. Os Espíritos instrutores empregam fórmulas variadas com os recém-desencarnados a depender de suas carac¬terísticas e reações. O Amor e a Tolerância são fundamentais, e o Es¬pírito que recepciona o que chega emprega toda a habilidade psicoló¬gica para que este se sinta seguro e aceito, apesar de suas imper¬feições. O Espírito recepcionista tem muita precaução nos contatos com o recém-desencarnado, atentando para a sua sensibilidade ao comentar erros passados, estimulando-o sem pressão".

5. Lúcia Loureiro acrescenta: "Esses Assistentes Sociais do Es¬paço integram as Caravanas Socorristas e são elementos preparados para fazer a aproximação daqueles que já se acham em condições razoáveis para recebimento de socorro. Outros há que fazem as visitas periódicas ao `enfermo', a fim de estimulá-lo a elevar o padrão vibratório, a es¬clarecê-lo... Eles acompanham os assistidos por toda a sua estada nas Colônias, observado o progresso espiritual de cada um".

6. As tarefas auxiliares do Serviço Social são o socorro espiri¬tual e a reabilitação:

Socorro espiritual: "Por ocasião das visitas das Caravanas Socor¬ristas às zonas inferiores, a primeira ajuda oferecida aos Espíritos carentes é a sua retirada do local e o transporte para as instituições hospitalares das Colônias. Após a fase de perturbação, os Espíritos, ainda exauridos, não têm forças para se locomover nem o senso da dire¬ção, daí a necessidade de transportá-los em macas, da mesma forma que os nossos doentes terrestres." Essa providência equivaleria, em nosso meio, a dar o peixe a quem tem fome.

Reabilitação: "Nas Colônias, o valioso instrumento de reabilita¬ção do Espírito é o trabalho, utilizado, também, como terapia ocupa¬cional. À medida que o Espírito convalescente se interessa pelo ser¬viço da comunidade, dedicando-se a qualquer tarefa, ainda que a mais simples, vai, da mesma forma, concretizando a sua cura. Os Espíritos comunicantes são unânimes quanto a essas declarações".

7. Em "A Vida Além do Véu”, o Rev. G. Vale Owen fala dessas ativida¬des, e André Luiz descreve em "Nosso Lar" a sua própria experiência: "Narcisa fazia o possível por atender prontamente à tarefa de limpeza, mas debalde. Grande número deles deixava escapar a mesma substância negra e fétida. Foi então que, instintivamente, me agarrei aos petre¬chos de higiene e lancei-me ao trabalho com ardor. A servidora parecia contente com o auxílio humilde do novo irmão, ao passo que Tobias me dispensava olhares satisfeitos e agradecidos. O serviço continuou por todo o dia, custando-se abençoado suor, e nenhum amigo do mundo pode¬ria avaliar a alegria sublime do médico que recomeçava a educação de si mesmo, na enfermagem rudimentar" ("Nosso Lar", cap. 27, pág. 151).

8. Otília Gonçalves (Espírito), em "Além da Morte", relata: “Aclimatada, na Terra, aos labores humildes de limpeza e asseio, ofe¬reci-me à irmã Zélia, em dia de grande movimento, para contribuir de algum modo com os deveres de manutenção da Enfermaria onde me encon¬trava, experimentando, com a sua aquiescência, indizível júbilo. À me¬dida que era atraída para esse serviço singelo, estranho revigoramento tomava corpo dentro de mim, entusiasmando-me e fazendo-me esquecer as preocupações e angústias lancinantes que ficaram no espírito, com a distância colocada pela morte”. Adrião lhe disse então que "o tra¬balho é o poderoso elixir de longa vida que fortifica todas as espe-ranças e esponja que apaga todas as preocupações. A alma que labora não é colhida pelas malhas das tentações da dúvida e do medo, ficando distante do barco fraco dos receios".

As organizações socorristas da erraticidade

9. Verifica-se, assim, que no Além a ociosidade e a inércia não têm lugar para aqueles que sentem a necessidade de progredir. Só a de¬dicação abnegada ao bem-estar geral faz com que se ascenda aos Planos Superiores. Os demais lá chegarão também, mas apenas pela dor.

10. A série "Nosso Lar", escrita por André Luiz, nos permitiu co¬nhecer inúmeras dessas organizações socorristas existentes nos planos espirituais imediatos à Crosta da Terra, de que fala Lúcia Loureiro:

O "Samaritanos" é uma delas, com notável atividade junto ao Um¬bral ("Nosso Lar", cap. 28, pág. 152).

O Posto de Socorro vinculado à colônia "Campo da Paz", adminis¬trado por Alfredo, com cerca de 500 cooperadores, é outra ("Os Mensa¬geiros", cap. 15 e 16).

Em "Obreiros da Vida Eterna" (cap. IV), André alude à Casa Tran¬sitória de Fabiano e às suas congêneres Oratório de Anatilde e Funda¬ção Cristo.

Em "No Mundo Maior" (cap. 20) fala-nos do Lar de Cipriana e dos inúmeros Postos de Socorro e Escolas (cap. 17) que atendem às en¬tidades sofredoras situadas numa várzea de extensão imensa localizada no limiar das cavernas, onde "vastos cardumes de desventurados jaziam chumbados ao solo, quais aves desditosas, de asas partidas".

No livro "Entre a Terra e o Céu" (cap. XI) descreve o Lar da Bênção, onde mais de 2.000 crianças desencarnadas são assistidas por mães substitutas, a maioria à espera de uma nova oportunidade no plano terrestre.

E em "Ação e Reação" (cap. 1) André nos apresenta a "Mansão Paz", instituição socorrista vinculada à colônia Nosso Lar, fundada há mais de três séculos para atendimento a entidades infelizes e enfermas que se preparam para nova incursão na experiência terrestre.

Cinco pontos fundamentais do Serviço Social espírita

11. Das experiências e relatos constantes da série Nosso Lar, de André Luiz, podemos extrair os seguintes pontos, que nos parecem fun¬damentais a um trabalho de assistência social espírita:

1o) A prática do bem é mero dever: "O Evangelho de Jesus (disse a André aquela que foi sua mãe terrena) lembra-nos que há maior alegria em dar que em receber. (...) Dá sempre, filho meu. Sobretudo, jamais esqueças dar de ti mesmo, em tolerância construtiva, em amor fraternal e divina compreensão.
A prática do bem exterior é um ensinamento e um apelo, para que cheguemos à prática do bem interior.

Jesus deu mais de si, para o engrandecimento dos homens, que todos os milionários da Ter¬ra congregados no serviço, sublime embora, da caridade material. Não te envergonhes de amparar os chaguentos e esclarecer os loucos que penetrem as Câmaras de Retificação (...). Trabalha, meu filho, fazendo o bem. Sempre que possas, olvida o entretenimento e busca o serviço útil" (Nosso Lar, cap. 36, pág. 198).

2o) O bem que fazemos jamais fica esquecido: "Nos círculos infe¬riores, meu filho (disse-lhe sua mãe), o prato de sopa ao faminto, o bálsamo ao leproso, o gesto de amor ao desiludido, são serviços divi¬nos que nunca ficarão deslembrados na Casa de Nosso Pai" (Idem, pág. 197).

3o) Não se concebe o trabalho de ajuda ao próximo sem o espírito de fraternidade: "Ainda há pouco tempo (disse-lhe Laura, mãe de Lí¬sias) ouvi um grande instrutor no Ministério da Elevação assegurar que, se pudesse, iria materializar-se nos planos carnais, a fim de di¬zer aos religiosos, em geral, que toda caridade, para ser divina, pre¬cisa apoiar-se na fraternidade" (Nosso Lar, cap. 39, pág. 218).

4o) O padrão da obra socorrista no mundo será sempre Jesus: "Jesus (disse-lhe Vicente, que também fora médico na Terra) não foi somente o Mestre, foi Médico também. Deixou no mundo o padrão da cura para o Reino de Deus. Ele proporcionava socorro ao corpo e ministrava fé à alma. Nós, porém, meu caro André, em muitos casos terrestres, nem sempre aliviamos o corpo e quase sempre matamos a fé" (Os Mensageiros, cap. 13, pág. 74).

5o) Devemos dar o pão que alimente o corpo, sem esquecer a luz que ilumine o espírito: "Nos primórdios do Cristianismo (disse-lhe Irene), a maioria dos necessitados entraria em contacto com Jesus através da sopa humilde ou do teto acolhedor. Lavando leprosos, tra¬tando loucos, assistindo órfãos e velhinhos desamparados, os continua¬dores do Cristo davam trabalho a si próprios, dedicavam-se aos infeli¬zes, esclarecendo-lhes a mente, e ofereciam lições de substancial in¬teresse aos leigos da fé viva. Como não ignoram, estamos fazendo no Espiritismo evangélico a recapitulação do Cristianismo" (Obreiros da Vida Eterna, cap. XII, pág. 190).

A recomendação de São Francisco Xavier

12. Conta-nos Manoel Philomeno de Miranda (in "Tramas do Des¬tino", cap. 21, págs. 196 a 199, obra psicografada por Divaldo P. Franco) que, quando o Centro Espírita "Francisco Xavier", de Salvador (BA), teve a sua edificação planejada, o dirigente espiritual Natércio, profundo admirador e discípulo de São Francisco Xavier, que fora na Terra incansável propagandista da fé cristã, tendo-a levado ao Japão, China e Índia, nos idos do séc. XVI, recorreu ao fiel Apóstolo de Jesus, suplicando seu patrocínio espiri¬tual para a Casa que seria erguida. Recebido pelo Mensageiro do Se¬nhor, Natércio expôs-lhe o programa que objetivava realizar. Sua grande meta era incrementar entre os homens o ardor da fé e a pureza dos princípios morais, conforme as regras simples dos "seguidores do Caminho", sem os atavios do dogmatismo, da aparência e dos formalis¬mos.

13. Terminado seu relato, o instrutor recebeu o aval do insigne Mis¬sionário, com uma condição: que se preservasse ali o Evangelho em suas linhas puras e simples, num clima de austeridade moral e serviços ilu¬minativos disciplinados, com os resultantes dispositivos para a cari-dade na suas múltiplas expressões, tendo-se, porém, em vista que os socorros materiais seriam decorrência natural do serviço espiritual, prioritário, imediato, e não os preferenciais..." "Não deveriam es¬quecer-se de que a maior carência ainda é a do pão de luz da consola¬ção moral, que o Livro da Vida propicia fartamente..."

14. Comentando o episódio, assevera Manoel Philomeno de Miranda (obra citada, págs. 198 e 199):

"Pensa-se muito em estômagos a saciar, cor¬pos a cobrir, doenças a curar... Sem menosprezar-lhes a urgência, o Consolador tem por meta primacial o espírito, o ser em sua realidade imortal, donde procedem todas as conjunturas e situações, que se exte¬riorizam pelo corpo e mediante os contingentes humanos, sociais, ter¬renos, portanto...

"A assistência social no Espiritismo é valiosa, no entanto, se precatem os `trabalhadores da última hora' contra os excessos, a fim de que a exaustão com os labores externos não exaura as forças do en¬tusiasmo nem derrube as fortalezas da fé, ao peso da extenuação e do desencanto nos serviços de fora.

"Evangelizar, instruir, guiar, colocando o azeite na lâmpada do coração, para que a claridade do espírito luza na noite do sofrimento, são tarefas urgentes, basilares na reconstrução do Cristianismo".

Não basta dar o pão que alimente apenas o corpo

15. É por isso que Joanna de Ângelis nos propõe (in "Dimensões da Verdade", pág. 123):

"A caridade tem regime de urgência, mas também o esclarecimento ao seu lado tem tarefa prioritária, funcionando como combustível de sustentação.

"Pão ao esfaimado como dever imediato, e luz do ensino espírita, para que a angústia da fome seja dirimida pelo serviço dignificante.

"Tecidos ao corpo entanguido como tarefa inadiável; no entanto, orientação espírita para agasalhar a alma na esperança, livrando-a, em definitivo, do frio.

"Medicamento ao corpo doente como recurso urgente; todavia, dire¬triz espírita para que o espírito compreenda as razões profundas da dor e possa revitalizar-se.

"Socorro ao aflito nos braços do desespero como obrigação irre¬sistível; mas roteiro espírita para que o conhecimento o liberte de toda treva e agitação.

"Amparo ao órfão, no próprio lar, como lição viva de amor; porém, conduta espírita diante dele, como linha de segurança para o seu en¬grandecimento.

"Assistência à mulher viúva e auxílio à miséria como impositivo da ação cristã; todavia, oferta da Doutrina Espírita a fim de que a revolução da verdade conceda luz e vida, para que novos enganos sejam evitados, libertando as mentes das ligações poderosas com o mal.

E a nobre mártir do Cristianismo nascente, hoje orientadora espiritual do trabalho de Divaldo P. Franco, arremata (obra citada, pág. 50):

"Nem Espiritismo sem assistência social, nem assistência social sem Espiritismo, para nós espiritistas encarnados e desencarnados.

"E guardemos a certeza de que, ao lado da assistência material que possamos doar, a assistência moral e espiritual deve ter prima¬zia."

P.Moryah.


segunda-feira, 12 de abril de 2010

ANTE OS QUE PARTIRAM


Nenhum sofrimento, na Terra, será talvez comparável ao daquele coração que se debruça sobre outro coração regelado e querido que o ataúde transporte para o grande silêncio.

Ver a névoa da morte estampar-se, inexorável, na fisionomia dos que mais amamos, e cerrar-lhes os olhos no adeus indescritível, é como despedaçar a própria alma e prosseguir vivendo. Digam aqueles que já estreitaram de encontro ao peito de um filhinho transfigurado em anjo da agonia; um esposo que se despede, procurando debalde mover os lábios mudos; uma companheira cujas mãos consagradas à ternura pendem extintas; um amigo que tomba desfalecente para não mais se erguer, ou um semblante materno acostumado a abençoar, e que nada mais consegue exprimir senão a dor da extrema separação, através da última lágrima.
Falem aqueles que, um dia, se inclinaram, esmagados de solidão, à frente de um túmulo; os que se rolaram em prece nas cinzas que recobrem a derradeira recordação dos entes inesquecíveis; os que caíram, varados de saudade, carregando no seio o esquife dos próprios sonhos; os que tatearam, gemendo a lousa imóvel, e os que soluçaram de angústia no ádito dos próprios pensamentos, perguntando, em vão, pela presença dos que partiram.

Todavia, quando semelhante provação te bata à porta, reprime o desespero e dilui a corrente da mágoa na fonte viva da oração, porque os chamados mortos são apenas ausentes e as gotas de teu pranto lhes fustigam a alma como chuva de fel.

Também eles pensam e lutam, sentem e choram.

Atravessam a  faixa do sepulcro como quem se desvencilha da noite, mas, na madrugada do novo dia, inquietam-se pelos que ficaram... Ouvem-lhes os gritos e as súplicas, na onda mental que rompe a barreira da grande sombra e tremem cada vez que os laços afetivos da retaguarda se rendem à inconformação ou se voltam para o suicídio.
Lamentan-se quanto aos erros praticados e trabalham, com afinco, na regeneração que lhe diz respeito.

Estimulam-te à prática do bem, partilhando-te as dores e as alegrias.Rejubilam-se com as tuas vitórias no mundo interior e consolam-te nas horas amargas para que te não percas no frio do desencanto.

Tranqüiliza, desse modo, os companheiros que demandam o Além, suportando corajosamente a despedida temporária, e honra-lhes a memória, abraçando com nobreza os deveres que te legaram.Recorda que, em futuro mais próximo que imaginas, respirarás entre eles, comungando-lhes as necessidades e os problemas, porquanto terminarás também a própria viagem no mar das provas redentoras.E, vencedo para sempre o terror da morte, não nos será lícito esquecer que Jesus, o nosso Divino Mestre e Herói do Túmulo Vazio, nasceu em noite escura, viveu entre os infortúnios da Terra e expirou na cruz, em tarde pardacenta, sobre o monte empedrado, mas ressuscitou aos cânticos da manhã, no fulgor de um jardim.

EMMANUEL
(Do Livro “Religião dos Espíritos”. 58, Francisco Cândido Xavier, FEB)





O SANTUÁRIO SUBLIME

"No corpo humano, temos na Terra o mais sublime dos santuários e uma das super maravilhas da Obra Divina." - Emmanuel

Noutro tempo, as nações admiravam como maravilhas o Colosso de Rodes, os Jardins Suspensos da Babilônia, o Túmulo de Mausolo, e, hoje, não há quem fuja ao assombro, diante das obras surpreendentes da engenharia moderna, quais sejam a Catedral de Milão, a Torre Eiffel ou os arranha-céus de Nova Iorque.
Raros estudiosos, no entanto, se recordam dos prodígios do corpo humano, realização paciente da Sabedoria Divina, nos milênios, templo da alma, em temporário aprendizado na Terra.

Por mais se nos agigante a inteligência, até agora não conseguimos explicar, em toda a sua harmoniosa complexidade, o milagre do cérebro, com o coeficiente de bilhões de células; o aparelho elétrico do sistema nervoso, com os gânglios à maneira de interruptores e células sensíveis por receptores em circuito especializado, com os neurônios sensitivos, motores e intermediários, que ajudam a graduar as impressões necessárias ao progresso da mente encarnada, dando passagem à corrente nervosa, com a velocidade aproximada de setenta metros por segundo; a câmara ocular, onde as imagens viajam, da retina para os recônditos do cérebro, em cuja intimidade se incorporam às telas da memória, como patrimônio inalienável do espírito; o parque da audição, com os seus complicados recursos para o registro dos sons e para fixação deles nos recessos da alma, que seleciona ruídos e palavras, definindo-os e catalogando-os na situação e no conceito que lhes são próprios; o centro da fala; a sede miraculosa do gosto, nas papilas da língua, com um potencial de corpúsculos gustativos que ultrapassa o número de 2.000; as admiráveis revelações do esqueleto ósseo; as fibras musculares; o aparelho digestivo; o tubo intestinal; o motor do coração; a fábrica de sucos do fígado; o vaso de fermentos do pâncreas; o caprichoso sistema sangüíneo, com os seus milhões de vidas microscópicas e com as suas artérias vigorosas, que suportam a pressão de várias atmosferas; o avançado laboratório dos pulmões; o precioso serviço de seleção dos rins; a epiderme com os seus segredos dificilmente abordáveis; os órgãos veneráveis da atividade genésica e os fulcros elétricos e magnéticos das glândulas no sistema endocrínico.

No corpo humano, temos na Terra o mais sublime dos santuários e uma das super maravilhas da Obra Divina...

Da cabeça aos pés, sentimos a glória do Supremo Idealizador que, pouco a pouco, no curso incessante dos milênios, organizou para o espírito em crescimento o domicílio de carne em que alma se manifesta. Maravilhosa cidade estruturada com vidas microscópicas quase imensuráveis, por meio dela a mente se desenvolve e purifica, ensaiando-se nas lutas naturais e nos serviços regulares do mundo, para altos encargos nos círculos superiores.

A bênção de um corpo, ainda que mutilado ou disforme, na Terra, é como preciosa oportunidade de aperfeiçoamento espiritual, o maior de todos os dons que o nosso Planeta pode oferecer.

Até agora, de modo geral, o homem não tem sabido colaborar na preservação e na sublimação do castelo físico. Enquanto jovem, estraga-lhe as possibilidades, de fora para dentro, desperdiçando-as impensadamente, e, tão logo se vê prejudicado por si mesmo ou prematuramente envelhecido, confia-se à rebelião, destruindo-o de dentro para fora, a golpes mentais de revolta injustificável e desespero inútil.

Dia surge, porém, no qual o homem reconhece a grandeza do templo vivo em que se demora no mundo e suplica o retorno a ele, como trabalhador faminto de renovação, que necessita de adequado instrumento à conquista do abençoado salário do progresso moral para a suspirada ascensão às Esferas Divinas.

EMMANUEL
(Do livro "Roteiro", 3, FCXavier, edição FEB)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

FLAGELOS

02 - Coragem - Espíritos Diversos - pág. 56

16. SE CRÊS EM DEUS

Se crês em Deus, por mais te ameacem os anúncios do pessimismo, com relação a prováveis calamidades futuras, conservarás o coração tranquilo, na convicção de que a Sabedoria Divina sustenta e sustentará o equilíbrio da vida, acima de toda perturbação.
Se crês em Deus, em lugar nenhum experimentarás solidão ou tristeza, porque te observarás em ligação constante com todo o Universo, reconhecendo que laços de amor e de esperança te identificam com todas as criaturas.
Se crês em Deus, nunca te perderás no labirinto da revolta ou da desesperação, ante golpes e injúrias que se te projetem na estrada, porquanto interpretarás ofensores e delinquentes, na condição de infelizes, muito mais necessitados de bondade e proteção que de fel e censura.
Se crês em Deus, jornadearás na Terra sem adversários, de vez que, por mais se multipliquem na senda aqueles que te agridam ou menosprezem, aceitarás inimigos e opositores, à conta de irmãos nossos, situados em diferentes pontos de vista.
Se crês em Deus, jamais te faltarão confiança e trabalho, porque te erguerás, cada dia, na certeza de que dispõe da bendita oportunidade de comunicação com os outros, desfrutando o privilégio incessante de auxiliar e abençoar, entender e servir.
Se crês em Deus, caminharás sem aflição e sem medo, nas trilhas do mundo, por maiores surjam perigos e riscos a te obscurecerem a estrada, porquanto, ainda mesmo à frente da morte, reconhecerás que permaneces com Deus, tanto quanto Deus está sempre contigo, além de provações e sombras, limitações e mudanças, em plenitude de vida eterna.

Emmanuel

07 - O Livro dos Espíritos - Allan Kardec - questão: 737

II -FLAGELOS DESTRUIDORES

Perg. 737. Com que fim Deus castiga a Humanidade com flagelos destruidores?

- Para fazê-la avançar mais depressa. Não dissemos que a destruição é necessária para a regeneração moral dos Espíritos, que adquirem em cada nova existência um novo grau de perfeição? E necessário ver o fim para apreciar os resultados. Só julgais essas coisas do vosso ponto de vista pessoal, e as chamais de flagelos por causa dos prejuízos que vos causam; mas esses transtornos são frequentemente necessários para fazerem que as coisas cheguem mais prontamente a uma ordem melhor, realizando-se em alguns anos o que necessitaria de muitos.(1) (Ver item 744-)

(1) Esta resposta coloca de maneira bem clara o problema dos "saltos" da Natureza de que tratamos em nota anterior. O "salto qualitativo" a que se refere a dialética marxista, e que para alguns contradiz a ordem evolutiva da doutrina espírita, é exatamente essa espécie de "transtornos" que apressam o desenvolvimento. Como se vê, o Espiritismo reconhece a existência e a necessidade de "transtornos", mas integrados no processo geral da evolução, não os admitindo como quebra desse processo. (N. do T)

Perg. 738. Deus não poderia empregar, para melhorar a Humanidade, outros meios que não os flagelos destruidores?

- Sim, e diariamente os emprega, pois deu a cada um os progredir pelo conhecimento do bem e do mal. E o homem quem não aproveita; então, é necessário castigá-lo em seu orgulho e fazê-lo sentir a sua fraqueza.

Perg. 738-a. Nesses flagelos, porém, o homem de bem sucumbe como os perversos; isso é justo?

- Durante a vida o homem relaciona tudo ao seu corpo, mas após a morte pensa de outra maneira. Como já dissemos: a vida do corpo é um quase nada; um século do vosso mundo é um relâmpago na eternidade. Os sofrimentos que duram alguns dos vossos meses ou dias, nada são; apenas um ensinamento que vos servirá no futuro. Os Espíritos que preexistem e sobrevivem a tudo formam o mundo real. (Ver item 85.) São eles os filhos de Deus e o objetivo de sua solicitude; os corpos não são mais que disfarces sob os quais aparecem no inundo. Nas grandes calamidades que dizimam os homens eles são como um exército que, durante a guerra, vê os seus uniformes estragados, rotos ou perdidos. O general tem mais cuidado com os soldados do que com as vestes.

Perg. 738-b. Mas as vítimas desses flagelos, apesar disso, não são vítimas?

- Se considerássemos a vida no que ela é, e quanto é insignificante em relação ao infinito, menos importância lhe daríamos. Essas vítimas terão noutra existência uma larga compensação para os seus sofrimentos, se souberem suportá-los sem murmurar.

Que a morte se verifique por um flagelo ou por uma causa ordinária, não se pode escapar a ela quando soa a hora da partida; a única diferença é que no primeiro caso parte um grande número ao mesmo tempo. Se pudéssemos nos elevar pelo pensamento de maneira a abranger toda a Humanidade numa visão única, esses flagelos tão terríveis não nos pareceriam mais do que tempestades passageiras no destino do mundo.

Perg. 739. Esses flagelos destruidores têm utilidade do ponto de vista físico, malgrado os males que ocasionam? - Sim, eles modificam algumas vezes o estado de uma região; mas o bem que deles resulta só é geralmente sentido pelas gerações futuras.

Perg. 740. Os flagelos não seriam igualmente provas morais para o homem, pondo-o às voltas com necessidades mais duras?

- Os flagelos são provas que proporcionam ao homem a ocasião de exercitar a inteligência, de mostrar a sua paciência e a sua resignação ante a vontade de Deus, ao mesmo tempo que lhe permitem desenvolver os sentimentos de abnegação, de desinteresse próprio e de amor ao próximo, se ele não for dominado pelo egoísmo.

Perg. 741

11 - Vozes do grande além - Espíritos Diversos - pág. 73

E' dado ao homem conjurar os flagelos que o afligem?

- Sim, em parte, mas não como geralmente se pensa. Muitos flagelos são a consequência de sua própria imprevidência. À medida que ele adquire conhecimentos e experiências pode conjurá-los, quer dizer, preveni-los, se souber pesquisar-lhes as causas. Mas entre os males que afligem a Humanidade, há os que são de natureza geral e pertencem aos desígnios da Providência. Desses, cada indivíduo recebe, em menor ou maior proporção, a parte que lhe cabe, não lhe sendo possível opor nada mais que a resignação à vontade de Deus. Mas ainda esses males são geralmente agravados pela indolência do homem.

Entre os flagelos destruidores, naturais e independentes do homem, jf.on ser colocados em primeira linha a peste, a fome, as inundações, as imtempéries fatais à produção da terra. Mas o homem não achou na Ciência, nos trabalhos de arte, no aperfeiçoamentos da agricultura, nos afolhamentos e nas irrigações, no estudo das condições higiênicas os meios de neutralizar ou pelo menos de atenuar tantos desastres? Algumas regiões vagamente devastadas por terríveis flagelos não estão hoje resguardadas? Que não fará o homem, portanto, pelo seu bem-estar material, quando souber aproveitar todos os recursos da sua inteligência e quando, ao cuidá-lo da sua preservação pessoal, souber aliar o sentimento de uma verdadeira caridade para com os semelhantes? (Ver item 707.)



terça-feira, 6 de abril de 2010

A MULHER E A RESSUREIÇÃO

As águas alegres do Tiberíades se aquietavam, lentamente, como tocadas por uma força invisível da Natureza, quando a barca de Simão, conduzindo o Senhor, atingiu docemente a praia. O velho apóstolo, abandonando os remos, deixava transparecer nos traços fisionômicos as emoções contraditórias de sua alma, enquanto Jesus o observava, adivinhando-lhe os pensamentos mais recônditos.— Que tens tu, Simão? — perguntou o Mestre, com o seu olhar penetrante e amigo. Surpreendido com a palavra do Senhor, o velho Cefas deu a perceber, por um gesto, os seus receios e as suas apreensões, como se encontrasse dificuldade em esquecer totalmente a lei antiga, para penetrar os umbrais da idéia nova, no seu caminho largo de amor, de luz e de esperança.— Mestre — respondeu com timidez —, a lei que nos rege manda lapidar a mulher que perverteu a sua existência.

Conhecendo, por antecipação, o pensamento do pescador e observando os seus escrúpulos em lhe atirar uma leve advertência, Jesus lhe respondeu com brandura: — Quase sempre, Simão, não é a mulher que se perverte a si mesma: é o homem que lhe destrói a vida. — Entretanto — tornou o apóstolo, respeitosamente —, os nossos legisladores sempre ordenaram severidade e rispidez para com as decaídas. Observando os nossos costumes, Senhor, é que temo por vós, acolhendo tantas meretrizes e mulheres de má vida, nas pregações do Tiberíades...

— Nada temas por mim, Simão, porque eu venho de meu Pai e não devo ter outra vontade, a não ser a de cumprir os seus desígnios sábios e misericordiosos. Assim falou o Mestre, cheio de bondade, e, espraiando o olhar compassivo sobre as águas, levemente encrespadas pelo beijo dos ventos do crepúsculo, continuou, num misto de energia e doçura:— Mas, ouve, Pedro! A lei antiga manda apedrejar a mulher que foi pervertida e desamparada pelos homens; entretanto, também determina que amemos os nossos semelhantes, como a nós mesmos. E o meu ensino é o cumprimento da lei, pelo amor mais sublime sobre a Terra. Poderíamos culpar a fonte, quando um animal lhe polui as águas? De acordo com a lei, devemos amar a uma e a outro, seja pela expressão de sua ignorância, seja pela de seus sofrimentos. E o homem é sempre fraco e a mulher sempre sofredora!...O velho pescador recebia a exortação com um brilho novo nos olhos, como se fora tocado nas fibras mais íntimas do seu espírito.— Mestre — retrucou, altamente surpreendido —, vossa palavra é a da revelação divina. Quereis dizer, então, que a mulher é superior ao homem, na sua missão terrestre?

— Uma e outro são iguais perante Deus — esclareceu o Cristo, amorosamente — e as tarefas de ambos se equilibram no caminho da vida, completando-se perfeitamente, para que haja, em todas as ocasiões, o mais santo respeito mútuo. Precisamos considerar, todavia, que a mulher recebeu a sagrada missão da vida. Tendo avançado mais do que o seu companheiro na estrada do sentimento, está, por isso, mais perto de Deus que, muitas vezes, lhe toma o coração por instrumento de suas mensagens, cheias de sabedoria e de misericórdia. Em todas as realizações humanas, há sempre o traço da ternura feminina, levantando obras imperecíveis na edificação dos espíritos.

Na história dos homens, ficam somente os nomes dos políticos, dos filósofos e dos generais; todos eles são filhos da grande heroína que passa, no silêncio, desconhecida de todos, muita vez dilacerada nos seus sentimentos mais íntimos ou exterminada nos sacrifícios mais pungentes. Mas, também Deus, Simão, passa ignorada em todas as realizações do progresso humano e nós sabemos que o ruído é próprio dos homens, enquanto que o silêncio é de Deus, síntese de toda a verdade e de todo o amor.



Por isso, as mulheres mais desventuradas ainda possuem no coração o gérmen divino, para a redenção da humanidade inteira. Seu sentimento de ternura e humildade será, em todos os tempos, o grande roteiro para a iluminação do mundo, porque, sem o tesouro do sentimento, todas as obras da razão humana podem parecer como um castelo de falsos esplendores. Simão Pedro ouvia o Mestre, tomado de profundo enlevo e santificado fervor admirativo. — Tendes razão, Senhor! — murmurou, entre humilde e satisfeito. — Sim, Pedro, temos razão — replicou Jesus, com bondade. E será ainda à mulher que buscaremos confiar a missão mais sublime na construção evangélica dentro dos corações, no supremo esforço de iluminar o mundo. O apóstolo do Tiberíades ouvira as derradeiras palavras do Divino Mestre, tomado de surpresa. Conservou-se, no entanto, em silêncio, ante o sorriso doce do Messias. Muito distante, o último beijo do Sol punha um reflexo dourado no leque móvel das águas que as correntes claras do Jordão enriqueciam. Simão Pedro, fatigado do labor diário, preparou-se para descansar, com sua alma clareada pelas novas revelações da palavra do Senhor, as quais, cheias de luz e esperança divinas, dissipavam as obscuridades da lei de Moisés.

Dois dias eram passados sobre o doloroso drama do Calvário, em cuja cruz de inominável martírio se sacrificara o Mestre, pelo bem de todos os homens. Penosa situação de dúvida reinava dentro da pequena comunidade dos discípulos. Quase todos haviam vacilado na hora extrema. O raciocínio frágil do homem lutava por compreender a finalidade daquele sacrifício. Não era Jesus o poderoso Filho de Deus que consolara os tristes, ressuscitara mortos, sarara enfermos de doenças incuráveis? Por que não conjurara a traição de Judas com as suas forças sobrenaturais? Por que se humilhara assim, sangrando de dor, nas ruas de Jerusalém, submetendo-se ao ridículo e à zombaria? Então, o emissário do Pai Celestial deveria ser crucificado entre dois ladrões?! Enquanto essas questões eram examinadas, de boca em boca, a lembrança do Messias ficava relegada a plano inferior, olvidada a sua exemplificação e a grandeza dos seus ensinamentos. O barco da fé não soçobrara inteiramente, porque ali estavam as lágrimas do coração materno, trespassado de amarguras. O Messias redivivo, porém, observava a incompreensão de seus discípulos, como o pastor que contempla o seu rebanho desarvorado.

Desejava fazer ouvida a sua palavra divina, dentro dos corações atormentados; mas, só a fé ardente e o ardente amor conseguem vencer os abismos de sombra entre a Terra e o Céu. E todos os companheiros se deixavam abater pelas idéias negativas. Foi então, quando, na manhã do terceiro dia, a ex-pecadora de Magdala se acercou do sepulcro com perfumes e flores. Queria, ainda uma vez, aromatizar aquelas mãos inertes e frias; queria, uma vez mais, contemplar o Mestre adorado, para cobri-lo com o pranto do seu amor purificado e ardoroso. No seu coração estava aquela fé radiosa e pura que o Senhor lhe ensinara e, sobretudo, aquela dedicação divina, com que pudera renunciar a todas as paixões que a seduziam no mundo. Maria Madalena ia ao túmulo com amor e só o amor pode realizar os milagres supremos. Estupefata, por não encontrar o corpo, já se retirava entristecida, para dar ciência do que verificara aos companheiros, quando uma voz carinhosa e meiga exclamou brandamente aos seus ouvidos:— Maria!...Ela se supôs admoestada pelo jardineiro; mas, em breves instantes reconhecia a voz inesquecível do Mestre e lhe contemplava o inolvidável sorriso. Quis atirar-se-lhe aos pés, beijar-lhe as mãos num suave transporte de afetos, como faziam nas pregações do Tiberíades; porém, com um gesto de soberana ternura, Jesus a afastou, esclarecendo:

— Não me toques, pois ainda não fui a meu Pai que está nos céus!...Instintivamente, Madalena se ajoelhou e recebeu o olhar do Mestre, num transbordamento de lágrimas de inexcedível ventura. Era a promessa de Jesus que se cumpria. A realidade da ressurreição era a essência divina, que daria eternidade ao Cristianismo. A mensagem da alegria ressoou, então, na comunidade inteira. Jesus ressuscitara! O Evangelho era a verdade imutável. Em todos os corações pairava uma divina embriaguez de luz e júbilos celestiais. Levantava-se a fé, renovava-se o amor, morrera a dúvida e reerguera-se o ânimo em todos os espíritos. Na amplitude da vibração amorosa, outros olhos puderam vê-lo e outros ouvidos lhe escutaram a voz dulçorosa e persuasiva, como nos dias gloriosos de Jerusalém ou de Cafarnaum. Desde essa hora, a família cristã se movimentou no mundo, para nunca mais esquecer o exemplo do Messias. A luz da ressurreição, através da fé ardente e do ardente amor de Maria Madalena, havia banhado de claridade imensa a estrada cristã, para todos os séculos terrestres. É por isso que todos os historiadores das origens do Cristianismo param a pena, assombrados ante a fé profunda dos primeiros discípulos que se dispersaram pelo deserto das grandes cidades para pregação da Boa Nova, e, observando a confiança serena de todos os mártires que se têm sacrificado na esteira infinita do Tempo pela idéia de Jesus, perguntam espantados, como Ernest Re-nan, numa de suas obras:— Onde está o sábio da Terra que já deu ao mundo tanta alegria quanto a carinhosa Maria de Magdala?


P.Moryah

domingo, 4 de abril de 2010

A TRAIÇÃO DE JUDAS,

“Afaste-se da boca enganosa e fique longe dos lábios falsos” (Pv 4, 24)
Introdução

É interessante como alguns temas bíblicos não resistem a uma análise mais profunda. Vários deles, que já tratamos em outros textos, nos levam a uma certeza que muitos trechos constantes da Bíblia trata-se de uma deliberada, mas sutil, montagem para se chegar a um objetivo previamente traçado. Daí, muitos textos foram amoldados a esse objetivo, passando por cima da verdade histórica que deveria conter tais escritos.

Muitas pessoas se chocam com atitudes como essa, a de uma análise crítica. Entretanto, não abrimos mão de fazer uso da inteligência com a qual nos dotou o Criador. Nós seres humanos racionais, que efetivamente somos, temos que usar esse dom, pois, não usá-la é abdicar da única capacidade que nos difere dos animais, por isso, acreditamos que só ofendemos a Deus, quando não utilizamos a nossa inteligência plenamente.

Reconhecemos, entretanto, ser muito difícil a inúmeras pessoas, principalmente as que não pesquisam, abandonar conhecimentos adquiridos, especialmente quando foram passados como verdades divinas sob coação ideológica. Ou seja, o simples questionamento da veracidade das mesmas já era, por si só, considerado como grave ofensa à divindade. Essa possibilidade de heresia acaba gerando um bloqueio mental em função do medo do conseqüente castigo por esse tipo de pecado. Assim, aceitamos sem o mínimo questionamento o que nos foi imposto como verdade absoluta. Com o tempo, passamos a defender idéias que nunca analisamos ou criticamos, como se nossas fossem.

O assunto que iremos tratar, desta vez, está relacionado a uma suposta traição a Jesus, que teria sido realizada por Judas Iscariotes, um de seus discípulos. Inclusive, tudo que consta na Bíblia sobre ele está somente nas passagens que iremos ver a seguir.

Análise das narrativas
Em Lucas 22,3-6, está escrito que, após satanás ter entrado em Judas, ele foi procurar os sacerdotes para ver de que maneira entregaria Jesus. Os sacerdotes ficaram tão satisfeitos com isso que combinaram em dar-lhe dinheiro, uma vez que eles desejavam, de há muito, eliminar esse herético. Tal acontecimento se deu, na versão de Lucas, antes da festa dos Ázimos, evidentemente, antes da ceia de páscoa, cujo prato principal eram os cordeiros que matavam especificamente para essa finalidade, entretanto, segundo João, esse fato se deu após a ceia (Jo 13, 26-29), apesar de que, um pouco antes, ele ter dito: “Enquanto ceavam, tendo já o diabo posto no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, que o traísse” (Jo 13,2), sendo, por conseguinte, omisso sobre qualquer combinação anterior entre Judas e os sacerdotes. Portanto, podemos verificar que há conflito entre as narrativas.

Quanto à questão dessa combinação com os sacerdotes, Mateus (26,15) diz que Judas pediu dinheiro para entregar-lhes Jesus, enquanto que Marcos (14,11) e Lucas (22, 5) afirmam que foram os sacerdotes é quem tomaram a iniciativa de retribuir ao discípulo, dando-lhe dinheiro como recompensa pelo seu ato ignominioso. Um bom observador irá perceber que, pelas suas narrativas, Mateus teve uma evidente preocupação, qual seja a de relacionar Jesus com as profecias, inclusive, muito mais que os outros Evangelistas. Daí ser ele o único que diz sobre o quanto Judas teria recebido, dando como certa a importância de trinta moedas de prata (Mt 26,15; 27,3). Essas passagens que falam disso são relacionadas a Zc 11,12-13, no pressuposto de que ela seja uma profecia, entretanto, os fatos ali narrados se referem ao próprio profeta Zacarias, não é, por conseguinte, uma revelação sobre algo que viesse a ocorrer no futuro.

Ao narrar os acontecimentos durante a ceia, Mateus relata que Jesus, ao responder aos discípulos sobre quem o iria trair, teria dito: “Quem vai me trair, é aquele que comigo põe a mão no prato. O Filho do Homem vai morrer, conforme a Escritura fala a respeito dele..." (Mt 26,23-24). Passagem relacionada ao Sl 41,10, onde Davi reclama sobre um amigo que o trai. O que nos leva a concluir que tal passagem não é uma profecia, assim, não poderia estar relacionada a Jesus, como querem os que buscam, nas Escrituras, apoio para seus dogmas. Davi foi traído por um amigo, seu próprio conselheiro, de nome Aquitofel, conforme narrativa em 2Sm 15,12.31. O final trágico da vida desse “amigo da onça” foi enforcar-se (2Sm17,23), por isso, querem, igualmente, atribuir esse mesmo destino a Judas, como iremos ver mais à frente.

Outra coisa que nos parece sem nenhum sentido, principalmente por tudo que Ele fez, é que Jesus tenha realmente se preocupado em delatar o seu traidor, conforme narra Jo 13,26, quando, para identificar quem o trairia, diz aos que o acompanhava, naquela ceia, que seria a quem desse um pão molhado, dito isso, imediatamente, entrega-o a Judas. Talvez a preocupação aqui seja buscar mais uma forma de relacionar tal episódio a uma suposta profecia sobre esse acontecimento.

Mateus (26,48) e Marcos (14,44) dizem que Judas havia combinado com os sacerdotes um sinal – o beijo – para que pudessem identificar quem era Jesus. Lucas, apesar de não relatar absolutamente nada sobre esse sinal, diz que Judas aproximando-se de Jesus o saúda com um beijo (Lc 22,47). Enquanto que João não fala de ter havido uma combinação de sinal, nem que Jesus teria dito algo a respeito e nem mesmo coloca Judas beijando a Jesus, já que, para ele, foi o Mestre que se adiantou aos guardas acompanhados de Judas se identificando a eles como sendo Jesus, o Nazareno, a quem procuravam (Jo 18,3-5). Fatos novamente conflitantes.

Nenhum outro evangelista, a não ser João, coloca Judas como sendo aquele que, entre os discípulos, cuidava da “bolsa” (Jo 13,29). Vai mais longe ainda, o acusa de ladrão (12,6). Como uma acusação grave dessa não foi feita por mais ninguém? Se Judas fosse realmente ladrão, por que motivo o deixaram tomando conta do dinheiro? Alguém colocaria um ladrão como seu administrador financeiro? Não seria, evidentemente, para colocar a honra desse discípulo em jogo, fórmula encontrada para se justificar que, por ser assim, ele não teria também nenhum escrúpulo em trair o seu próprio Mestre?

Não bastassem os que já encontramos, aparecem-nos agora mais dois evidentes conflitos.

O primeiro está relacionado à forma pela qual Judas deu cabo à sua vida, movido, segundo relata Mateus, por profundo remorso. Estranhamente ele é o único evangelista que fala disso, nenhum outro apresenta uma linha sequer sobre Judas ter se arrependido. Continuando seu relato Mateus diz que Judas enforcou-se (27, 5), entretanto em Atos (1,18) está se afirmando que ele “precipitando-se, caiu prostrado e arrebentou pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram”, mudando-se, desta maneira, a versão anterior a respeito de sua morte. Encontramos a seguinte explicação para esse passo: “Possivelmente a narração da morte de Judas enforcando-se, está inspirada na história da morte de Aquitofel (cf. 2Sm 17,23)” (Bíblia Sagrada Santuário, p. 1463). Conforme citamos anteriormente Aquitofel enforcou-se, mas querer daí, apenas por inspiração, atribuir a Judas uma morte semelhante é lamentável, pois os fatos bíblicos deveriam relatar fielmente o ocorrido, não como o autor quer que tenha acontecido, o que nos coloca diante de uma mera suposição.

O segundo diz respeito ao destino dado às moedas. Mateus menciona que Judas as teria devolvido, atirado-as dentro do santuário, que recolhidas pelos sacerdotes foram, por deliberação, destinadas à compra do campo do oleiro, para servir de cemitério aos estrangeiros (27,3-10). Citando que isso aconteceu para se cumprir o que dissera o profeta Jeremias. Mas essa história parece-nos mal contada, pois em Atos se diz que o próprio Judas teria comprado um campo (At 1,18), que até poderia ser esse do oleiro, mas de qualquer forma está em conflito com a versão anterior.

Na maioria das Bíblias em que consultamos, dizem que as profecias relacionadas a Mt 27,9: “Cumpriu-se, então, o que foi dito pelo profeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata,, preço do que foi avaliado, a quem certos filhos de Israel avaliaram e deram-nas pelo campo do oleiro, assim como me ordenou o Senhor”, seriam: Zc 11,12-13 e Jr 32,5-16, ou Jr 18,1-4 e 19,1-3, havendo, portanto, sérias dúvidas quanto à identificação da profecia especifica relacionada ao episódio. Como já falamos sobre a citação de Zacarias, fica-nos, por conseguinte, apenas as de Jeremias para dizermos alguma coisa. Em notas explicativas sobre elas encontramos que: “A citação é uma combinação artificial de Jr 32,6-9 e Zc 11,12-12” (Bíblia do Peregrino, p. 2386), isso deixa-nos diante da realidade de que, por se admitir que seja “uma combinação artificial”, estamos, sem dúvida, diante de mais uma tentativa de se relacionar acontecimentos no Novo Testamento com ocorrências registradas no Antigo Testamento tidas como se fossem verdadeiras profecias.

Quem tiver a curiosidade de consultar a passagem citada de Zacarias não encontrará nela nenhum aspecto de profecia, são apenas fatos relacionados àquele momento vivido por esse profeta. E quanto a Jeremias, não se encontra absolutamente nada que ele tenha comprado alguma coisa por trinta moedas. Sobre a compra de um terreno, sim, como podemos ver em 32,1-44, mas uma situação circunstancial, explicada da seguinte forma:

“À primeira vista se trata de um incidente: a compra e venda de um terreno segundo as normas e o procedimento da legislação judaica. O narrador se compraz em registrar todos os detalhes, mostrando que a lei foi estritamente cumprida e que o ato é juridicamente válido. O surpreendente dessa compra-e-venda é que se realiza às vésperas da catástrofe inevitável. Que sentido tem nesse momento comprar um terreno para que fique em poder da família? Tudo já está perdido. Mas o absurdo do ato é a chave do seu sentido. Para efeitos legais imediatos, a compra nada servirá; para efeitos proféticos, é admirável ato de esperança no futuro. É um oráculo em ação, Jeremias profetiza ao vivo: não só palavras, nem ação simbólica, mas ato real jurídico. Esse ato significa o futuro que ele antecipa: a jarra de barro onde se guarda o contrato é um penhor que Deus concede. Apesar do que está para acontecer, a terra continua sendo propriedade dos judaítas: a terra prometida aos patriarcas e possuída durante séculos...” (Bíblia do Peregrino, p. 1928).

Podemos ainda confirmar isso com a seguinte explicação: “A citação [Mt 27,9] é tirada na realidade de Zacarias (11,12-13). Mas, ele lembra também diversos versículos de Jeremias onde se faz menção do campo e do oleiro (32,6-6; 18,2-12)”. (Bíblia Ave Maria, p. 1319). Ressaltamos que a expressão “ela lembra”, é uma afirmativa que depõe contra o próprio texto que, positivamente, diz ser de Jeremias essa profecia.

Conclusão

Percebemos que as narrativas possuem diversos fatos conflitantes entre si, deixando-nos na convicção que tudo não passa de um ajuste dos textos para se chegar a um objetivo pré-determinado, conforme já falávamos, desde o início. Para se ter uma idéia mais exata sobre isso, colocaremos a passagem Mateus 27,1-26, que, para tornar a explicação mais fácil de ser entendida, iremos dividi-la em três partes:

I) 1-2: De manhã cedo, todos os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo convocaram um conselho contra Jesus, para o condenarem à morte. Eles o amarraram e o levaram, e o entregaram a Pilatos, o governador.

II) 3-10: Então Judas, o traidor, ao ver que Jesus fora condenado, sentiu remorso, e foi devolver as trinta moedas de prata aos chefes dos sacerdotes e anciãos, dizendo: "Pequei, entregando à morte sangue inocente". Eles responderam: "E o que temos nós com isso? O problema é seu". Judas jogou as moedas no santuário, saiu, e foi enforcar-se. Recolhendo as moedas, os chefes dos sacerdotes disseram: "É contra a Lei colocá-las no tesouro do Templo, porque é preço de sangue". Então discutiram em conselho, e as deram em troca pelo Campo do Oleiro, para aí fazer o cemitério dos estrangeiros. É por isso que esse campo até hoje é chamado de "Campo de Sangue". Assim se cumpriu o que tinha dito o profeta Jeremias: "Eles pegaram as trinta moedas de prata - preço com que os israelitas o avaliaram - e as deram em troca pelo Campo do Oleiro, conforme o Senhor me ordenou".

III) 11-26: Jesus foi posto diante do governador, e este o interrogou: "Tu és o rei dos judeus?" Jesus declarou: "É você que está dizendo isso". E nada respondeu quando foi acusado pelos chefes dos sacerdotes e anciãos. Então Pilatos perguntou: "Não estás ouvindo de quanta coisa eles te acusam?" Mas Jesus não respondeu uma só palavra, e o governador ficou vivamente impressionado. Na festa da Páscoa, o governador costumava soltar o prisioneiro que a multidão quisesse...”

Para o que queremos colocar não é necessário citar toda a narrativa, assim omitimos o restante da seqüência dessa última (vv. 16-26), pois até aqui, no versículo 15, já encontramos o suficiente para entendermos e percebermos que os versículos de 3-10 nada têm a ver com o contexto geral daquilo relatado na passagem. Inclusive, no versículo 3 está dito que Judas viu que Jesus havia sido condenado, quando, no desenrolar do texto, esse fato ainda não havia acontecido, que só veio acontecer mais à frente. A quebra brusca na seqüência dessa narrativa, não deixou de ser percebida pelo tradutor da Bíblia do Peregrino, conforme nos explica:

“O episódio da morte de Judas interrompe estranhamente o curso do relato, como se a entrega de Jesus ao governador ultrapassasse suas previsões. Sabemos que a figura de Judas alimentou desde cedo fantasias legendárias. Lucas dá versão diferente (At 1,18-20). A morte violenta do perseguidor ou culpado é tema literário conhecido (p. ex. Absalão, 2Sm 18: Antíoco Epífanes, 2Mc9; em versão poética vários oráculos proféticos, p.ex. Is 14; Ez 28). Antes de morrer, Judas acrescenta seu testemunho sobre a inocência de Jesus. Confessa o pecado, mas desespera do perdão...” (pp. 2385-2386).

Isso vem confirmar todas as nossas suspeitas de que tudo foi um calculado arranjo visando ajustar os textos às conveniências dos interessados para que eles tivessem referências às suas idiossincrasias. E em relação ao assunto tratado, temos fortes suspeitas que vários outros trechos foram intercalados às narrativas bíblicas, para se amoldá-los ao propósito determinado. Podemos citar, como exemplo, Mt 26,14-16, 21-25, Mc 10,10-11; 14, 18-21, Lc 22,3-6, 21-23, para que você, caro leitor, faça uma análise mais aprofundada.

Ficamos a pensar como se sentiu e como ainda pode estar se sentido Judas sobre tudo quanto lhe imputaram como procedimento. O pobre coitado ainda é julgado e condenado, anos após anos, pelos ditos “cristãos”, que, com certeza, não cumprem: “Não julgueis os outros para não serdes julgados, porque com o julgamento com que julgardes, sereis julgados e com a medida que medirdes sereis medidos” (Mt 7,1-2). Não bastasse isso ainda é humilhado, malhado e, ao final, é espetacularmente “detonado”. Infelizmente esse nos parece ser o seu destino cruel, que se perpetua anualmente nas comemorações da Semana Santa realizadas por determinadas religiões cristãs tradicionais.