quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

NOSSO VERDUGO INTERIOR

Verdugo invisível, onde se lhe evidencie a influên­cia, aparecem a rebeldia e o azedume, preparando a per­turbação e a discórdia.

Mostra-se na alma que lhe ouve as pérfidas suges­tões, à maneira de fera oculta a atirar-se sobre a presa.

Assimilando-lhe a faixa de treva, cai a mente em aflitiva cegueira, dentro da qual não mais enxerga se­não a si mesma.

E assim dominada, a criatura, ao pé dos outros, é a personificação da exigência, desmandando-se, a cada ins­tante, em reclamações descabidas, incapaz de anotar os sofrimentos alheios. Pisa nas dores do próximo com a dureza do bronze e recebe-lhe as petições com a agressi­vidade do espinheiro, expelindo pragas e maldições. Onde surge, pede os primeiros lugares, e, se lhos negam, à face das tarefas que a previdência organiza, não se peja de evocar direitos imaginários, condenando, sem análise, tudo quanto se lhe expõe ao discernimento. Desatendida nos caprichos particulares com que se aproxima dos se­tores de luta que desconhece, mastiga a maledicência ou gargalha o sarcasmo, lançando lodo e veneno sobre no­mes e circunstâncias que demandam respeito. Se alguém formula ponderações, buscando-lhe o ânimo à sensa­tez, grita, desesperada, contra tudo o que não seja ado­ração a si mesma, na falsa estimativa dos minguados valores que carrega no fardo de ignorância e basófia.

E, então, a pessoa, invigilante e infeliz, assim trans­formada em temível fantasma de incompreensão e de in­transigência, enrodilha-se na própria sombra, como a tar­taruga na carapaça, e, em lastimável isolamento de es­pírito, não sabe entender ou perdoar para ser também perdoada e entendida, enquistando-se na inconformação, que se lhe amplia no pensamento e na atitude, na palavra e nos atos, tiranizando-lhe a vida, como a enfermidade le­tal que se agiganta no corpo pela multiplicação indiscri­minada de perigosos bacilos.

Atingido esse estado dalma, não adota outro rumo que não seja o da crueldade com que, muitas vezes, se arroja ao despenhadeiro da delinqüência, associando-se a todos aqueles que se lhe afinam com as vibrações depri­mentes, em largas simbioses de desumanidade e loucura, formando o pavoroso inferno do crime.

Irmãos, precatai-vos contra semelhante perseguidor, vestindo o coração na túnica da humildade que tudo com­preende e a todos serve, sem cogitar de si mesma, por­que esse estranho carrasco, que nos alenta o egoísmo, que  em toda parte chama-se orgulho.

P.Moryah.





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