domingo, 15 de janeiro de 2012

FOBIA DAS NOVIDADES

Um dos principais problemas, senão o maior, com que o espiritismo defronta-se hoje é a recusa por parte dos componentes do movimento espírita, seja no âmbito pessoal, seja no organizacional, em encetar uma busca por novos conhecimentos que culminasse com necessárias atualizações na estrutura doutrinária, em seus aspectos científico e filosófico.

Essa busca é necessária na medida em que o espiritismo é, como definiu o próprio Kardec, uma " ciência filosófica " [1]. Isso significa que a doutrina espírita baseia-se não somente em fatos experimentalmente verificáveis, mas em um conjunto de idéias que apresentam estes fatos, coordenando-os em uma tese lógica que engloba todo o Universo. Em suma, o objetivo da doutrina espírita é mostrar como o Universo é constituído, e, a partir daí, propor uma modificação pessoal de cada espírito, para que estes passem a agir de acordo com a lei natural.

Assim sendo, e considerando que os conhecimentos do homem sobre o Universo vão crescendo de maneira paulatina, é necessário que o espiritismo esteja constantemente atualizando-se, o que significa dizer, repensando-se a cada novidade que a ciência ou o pensar humano descobrir. Esse repensar levará, fatalmente, a mudanças na estrutura ideológica e organizacional do espiritismo.


Tais mudanças foram previstas para a doutrina espírita pelo próprio Kardec. Ao discutir sobre o modo pelo qual o espiritismo vem a ser conhecido, e o que acontecerá com ele no futuro, Kardec deixa claro que modificações serão realizadas na medida que a verdade venha a ser conhecida com mais plenitude: " O espiritismo, marchando com o progresso, jamais será ultrapassado porque, se novas descobertas demonstrassem estar em erro sobre um certo ponto, ele se modificaria sobre esse ponto; se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará

Essa recusa em aceitar um processo de mudanças para a doutrina espírita, mesmo tendo este processo sido preconizado pelo próprio Allan Kardec, faz com que, cada vez mais, o espiritismo esteja afastando-se da posição de ciência ou de filosofia moral, com a qual ele próprio se define. Em fazendo isso, o movimento espírita acaba dando razão àqueles que vêem no espiritismo não mais que uma seita mística, desvinculada de qualquer processo racional, guiando-se apenas pela fé cega.

É compreensível que o processo de mudanças, sendo, sempre, traumático, provoque certo receio, notadamente naquelas pessoas que ocupam posições de poder. Entretanto, o que está em jogo é nada menos que a própria sobrevivência da doutrina espírita, que, incapaz de atuar como uma religião formal ( o que, aliás, não é seu escopo ), também não tem sido capaz de fazer-se ver pelo movimento de cultura como uma filosofia capaz de contribuir, com uma visão racional e otimista, para a felicidade do homem.

Atualmente, em contraposição ao que acontecia à época em que o espiritismo foi criado, a elite cultural da humanidade não se preocupa com ele, aplicando aos fenômenos que lhe deram origem explicações que desconsideram a possibilidade de sobrevivência do espírito. E o meio espírita não tem sido capaz de impor suas idéias, nem ao menos como hipóteses de trabalho válidas.

O presente texto objetiva discutir os motivos que levam o espiritismo a esta posição de estagnação no aspecto cultural, que o tem feito sustentar posições em desacordo com o atual estágio do conhecimento humano. Salienta meios pelos quais a doutrina espírita pode retomar seu crescimento intelectual, a partir de discussões amplas a serem realizadas nos próprios centros espíritas e de uma melhor preparação dos recursos humanos. Enfatiza também a necessidade de estimular a produção intelectual sobre espiritismo, e de participação do espírita nos meios acadêmicos, de modo a torná-lo conhecido e respeitado.

P.Moryah.


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