quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

SAIT GERMAIN NOVO "GOVERNADOR DO PLANETA" OU APENAS UM BOM VIVANT?


Segundo ensina a Doutrina Espírita, Jesus de Nazaré representa "o tipo da perfeição moral a que a humanidade pode aspirar na Terra" (O L.E., questão 625), sendo que Allan Kardec, com absoluta clareza, classifica-o, na dissertação IX do cap. XXXI de "O Livro dos Médiuns", como "o espírito puro por excelência". Já na questão 625 de "O Livro dos Espíritos", Kardec indaga: "Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo?", e os Espíritos responderam simplesmente: "— Vede Jesus".

Em "O Evangelho Segundo o Espiritismo, logo no primeiro capítulo, nos é ensinado que "O Cristo foi o iniciador da mais pura, da mais sublime moral, da moral evangélico-cristã, que há de renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmãos; que há de fazer brotar de todos os corações a caridade e o amor do próximo e estabelecer entre os humanos uma solidariedade comum; de uma moral, enfim, que há de transformar a Terra, tornando-a morada de Espíritos superiores aos que hoje a habitam. É a lei do progresso, a que a Natureza está submetida, que se cumpre, e o Espiritismo é a alavanca de que Deus se utiliza para fazer que a Humanidade avance.
São chegados os tempos em que se hão de desenvolver as ideias, para que se realizem os progressos que estão nos desígnios de Deus. Têm elas de seguir a mesma rota que percorreram as ideias de liberdade, suas precursoras. Não se acredite, porém, que esse desenvolvimento se efetue sem lutas. Não; aquelas ideias precisam, para atingirem a maturidade, de abalos e discussões, a fim de que atraiam a atenção das massas. Uma vez isso conseguido, a beleza e a santidade da moral tocarão os espíritos, que então abraçarão uma ciência que lhes dá a chave da vida futura e descerra as portas da felicidade eterna. Moisés abriu o caminho; Jesus continuou a obra; o Espiritismo a concluirá"
.

Não obstante tais claros ensinamentos, estabelecendo que a transformação da humanidade, lenta e gradativa, se dará através da compreensão das Leis de Deus transmitidas a nós por intermédio de espíritos missionários do quilate de Jesus e da própria Doutrina Espírita, os seguidores do espírito Ramatis, influenciados, assim como ocorrera com Hercílio Maes, pelas ideias teosóficas, apresentam Saint Germain como um espírito do mesmo quilate de Jesus, e, o que é ainda mais surpreendente, como o "novo governador do Planeta Terra". Tal "novidade", bem ao gosto dos "universalistas", que em alto e bom som propagam aos quatro ventos que a Doutrina estaria "ultrapassada" e carente de "complementos", é encontrada nos livros de um dos mais recentes médiuns de Ramatis, Roger Bottini, do Rio Grande do Sul, ao qual já nos referimos nos artigos "Universalismo Crístico ou Misticismo Anti-Espirítico" e "Insistindo nos Mesmos Erros". Em seu livro "A Nova Era", lemos que "os já aprovados para a Nova Era ingressarão em uma época de novos aprendizados sob a orientação do mestre Saint Germain", referindo-se aos indivíduos que sobreviverem às devastadoras catástrofes supostamente provocadas por um planeta chamado "Absinto", repetindo, assim, as mesmas previsões feitas por Ramatis a Hercílio Maes e que não se cumpriram nas datas previstas (de 1992 a 1999). Jesus, ao seu turno, segundo eles, assumiria atividades superiores, pois teria encerrado a sua missão, ficando o planeta aos cuidados de Saint Germain.

Pois bem, mas quem seria Saint Germain? Segundo a Teosofia e a seita esotérica chamada "Grande Fraternidade Branca", com base nos escritos de Annie Besant, Charles Leadbeater e Alice Bailey, Saint Germain seria um "Mestre Ascensionado do Sétimo Raio de Luz Cósmica" ou "Chama Violeta", que, dois mil anos após a vinda de Jesus, receberia a incumbência de substituí-lo na "Era de Aquário". Ainda segundo os autores acima citados, Saint Germain teria sido o descobridor do elixir da vida eterna, tendo se tornado, consequentemente, imortal.

No entanto, da versão acima o que se tem são apenas descrições sem qualquer comprovação ou documentação histórica, oriunda apenas de relatos de pessoas que sequer o conheceram pessoalmente e que já possuíam uma inclinação mística bastante acentuada, digamos assim, carecendo de completa credibilidade. Já o filósofo Rousseau e o político Horace Walpole o conheceram. O "Conde" (de) Saint Germain chegou à corte francesa em 1743, com passado nebuloso. Muitos chegaram a duvidar da autenticidade de seu título nobiliárquico. Era um virtuose do violino, mestre da alquimia e de outras ciências ocultas, um modismo da época. E tinha grande lábia. Não demorou a conquistar a confiança do rei Luís XV. A sua fama de dom-juan e uma suspeita de falsificação de joias entretanto macularam sua imagem. Em 1746, teve de sair fugido para não ser preso ou vitimado por alguma vingança. Voltou a aparecer em Versalhes em 1758. O rei o enviou a missões de espionagem na Inglaterra, Holanda e Áustria. Na Itália, virou amigo de Casanova, que se transformou em seu parceiro de farra. Para toda bela mulher, revelava possuir o elixir da eterna juventude. O truque funcionava especialmente com jovens da corte e criadas crédulas. Acabou, porém, desvirginando a filha de um nobre que o estava hospedando. Achou melhor sumir de novo. Depois, foi avistado diversas vezes na Europa, sempre com nomes diferentes: conde de Tsarogy, conde Welldone, marquês de Montferrat. Na época, já estava em decadência. Foi tido como charlatão na corte do rei Frederico da Prússia ao dizer que transformava chumbo em ouro. Supostamente, morreu amargurado em 1784.

Na Revista Espírita de fevereiro de 1859, o espírito São Luis é questionado, ao tratar do tema "Os Agêneres", se o conde de Saint-German não pertencia à categoria dos agêneres. A resposta foi simples e direta: - Não; era um hábil mistificador.

Caberá ao leitor analisar se alguém com as características citadas acima realmente estaria em condições de servir de guia e modelo da humanidade... Da mesma forma, sem infantilmente colocarem-se como vítimas de perseguição, cabe aos auto-intitulados "espíritas universalistas", em especial os seus representantes e autores dessas obras em tantos pontos em completa oposição ao Espiritismo, darem explicações para tamanho disparate, que se soma aos outros tantos que já identificamos e mencionamos em artigos anteriores.

domingo, 15 de janeiro de 2012

FOBIA DAS NOVIDADES

Um dos principais problemas, senão o maior, com que o espiritismo defronta-se hoje é a recusa por parte dos componentes do movimento espírita, seja no âmbito pessoal, seja no organizacional, em encetar uma busca por novos conhecimentos que culminasse com necessárias atualizações na estrutura doutrinária, em seus aspectos científico e filosófico.

Essa busca é necessária na medida em que o espiritismo é, como definiu o próprio Kardec, uma " ciência filosófica " [1]. Isso significa que a doutrina espírita baseia-se não somente em fatos experimentalmente verificáveis, mas em um conjunto de idéias que apresentam estes fatos, coordenando-os em uma tese lógica que engloba todo o Universo. Em suma, o objetivo da doutrina espírita é mostrar como o Universo é constituído, e, a partir daí, propor uma modificação pessoal de cada espírito, para que estes passem a agir de acordo com a lei natural.

Assim sendo, e considerando que os conhecimentos do homem sobre o Universo vão crescendo de maneira paulatina, é necessário que o espiritismo esteja constantemente atualizando-se, o que significa dizer, repensando-se a cada novidade que a ciência ou o pensar humano descobrir. Esse repensar levará, fatalmente, a mudanças na estrutura ideológica e organizacional do espiritismo.


Tais mudanças foram previstas para a doutrina espírita pelo próprio Kardec. Ao discutir sobre o modo pelo qual o espiritismo vem a ser conhecido, e o que acontecerá com ele no futuro, Kardec deixa claro que modificações serão realizadas na medida que a verdade venha a ser conhecida com mais plenitude: " O espiritismo, marchando com o progresso, jamais será ultrapassado porque, se novas descobertas demonstrassem estar em erro sobre um certo ponto, ele se modificaria sobre esse ponto; se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará

Essa recusa em aceitar um processo de mudanças para a doutrina espírita, mesmo tendo este processo sido preconizado pelo próprio Allan Kardec, faz com que, cada vez mais, o espiritismo esteja afastando-se da posição de ciência ou de filosofia moral, com a qual ele próprio se define. Em fazendo isso, o movimento espírita acaba dando razão àqueles que vêem no espiritismo não mais que uma seita mística, desvinculada de qualquer processo racional, guiando-se apenas pela fé cega.

É compreensível que o processo de mudanças, sendo, sempre, traumático, provoque certo receio, notadamente naquelas pessoas que ocupam posições de poder. Entretanto, o que está em jogo é nada menos que a própria sobrevivência da doutrina espírita, que, incapaz de atuar como uma religião formal ( o que, aliás, não é seu escopo ), também não tem sido capaz de fazer-se ver pelo movimento de cultura como uma filosofia capaz de contribuir, com uma visão racional e otimista, para a felicidade do homem.

Atualmente, em contraposição ao que acontecia à época em que o espiritismo foi criado, a elite cultural da humanidade não se preocupa com ele, aplicando aos fenômenos que lhe deram origem explicações que desconsideram a possibilidade de sobrevivência do espírito. E o meio espírita não tem sido capaz de impor suas idéias, nem ao menos como hipóteses de trabalho válidas.

O presente texto objetiva discutir os motivos que levam o espiritismo a esta posição de estagnação no aspecto cultural, que o tem feito sustentar posições em desacordo com o atual estágio do conhecimento humano. Salienta meios pelos quais a doutrina espírita pode retomar seu crescimento intelectual, a partir de discussões amplas a serem realizadas nos próprios centros espíritas e de uma melhor preparação dos recursos humanos. Enfatiza também a necessidade de estimular a produção intelectual sobre espiritismo, e de participação do espírita nos meios acadêmicos, de modo a torná-lo conhecido e respeitado.

P.Moryah.


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

AS MAZELAS DO MOVIMENTO



O nosso Movimento Espírita vai seguindo na marcha que nós, os espíritas, lhe impomos.
Onde os confrades são lúcidos, dispostos e dinâmicos, o Movimento segue nessa linha, apresentando opimos frutos, alimentando a tantas almas que lhe batem às portas.
 Onde as posturas dos companheiros são mais pacatas, antiquadas ou retrógradas, que poderíamos esperar como conseqüências?

Em termos de Movimento Internacional, temos acompanhado um crescimento, embora muito lento, considerando as culturas nacionais e as idiossincrasias individuais.
 Esse incremento se deve ao trabalho dedicado que o CEI (Conselho Espírita Internacional) vem realizando desde 1992, quando foi criado em Madri.

As maiores dificuldades, na minha avaliação, têm sido a renitência humana em mergulhar, definitivamente, na proposta doutrinária, transformando a vida para melhor.
No exterior, vejo a carência de literatura em sua língua, dificultando a continuidade dos estudos, da assimilação dos conhecimentos espíritas.

Contudo, a perseverança no ideal e a fidelidade aos postulados da Doutrina Espírita, por parte de incontáveis e incansáveis trabalhadores de escol, em todas as regiões do Brasil, comove-nos imensamente. No exterior, encontramos a firmeza com que um pugilo de nobres seareiros vem mantendo acesa a chama doutrinária, multiplicando as células espíritas, mesmo com a pequena freqüência que caracteriza a maioria desses grupos, mesmo com todas as dificuldades em torno.

Jesus Cristo dizia que "a seara é grande e os trabalhadores são poucos...". Allan Kardec afirma que "sou sozinho para fazer de tudo."
 Logo, a questão da falta de trabalhadores é histórica em todo movimento do bem na Terra.

Por outro lado, trabalhadores conscientes não se acham prontos, é preciso produzi-los, formá-los.
 Sempre que as instituições têm direções bem dispostas, tratam de convidar os companheiros costumeiros em suas sessões, abordando-os sobre a possibilidade de prestarem suas contribuições.
 Caso o aceitem, eis o momento de prepará-los, pouco a pouco, mas com o bom senso que nos ensinou Kardec.

Percebemos nas casas espíritas um grande número de crianças na evangelização, no entanto, quando chegam na adolescência e são encaminhadas para mocidade, se evadem em quantidade significativa.

E aí não há lugar para especulações.
Cada instituição, através dos seus DJs, trate de se reunir, discutir seus programas, suas metodologias, seus recursos humanos e, se tiverem seriedade, encontrarão as causas das evasões.
 Encontradas essas causas, já não será tão difícil achar soluções.

Como orientar o médium que recebe mensagens de entidades diferentes, repetidamente com o mesmo conteúdo?

Há que se ter coragem, dignamente, de dialogar com o companheiro da mediunidade.
Importante saber dele o que vem acontecendo com ele.

 Muitas vezes, estará vivendo problemas íntimos que não abre com ninguém, e essa situação poderá estar propiciando dificuldades na filtragem dos conteúdos espirituais.
Pode ser que o problema esteja calcado na falta de conhecimento doutrinário sobre a mediunidade, etc.

Precisamos aprender a lidar com o nosso material humano, posto que não há receitas prontas para cada caso, em termos espíritas.

A FEB preparou um programa com apostilas para o Estudo Sistematizado – ESDE. Qual a sua importância para a formação de trabalhadores na instituição espírita?

Desde que bem aplicados, bem explorados e complementados, de acordo com as necessidades que conhecemos da nossa população alvo, esses programas serão de grande valia, de imensa importância na formação inicial ou na formação continuada de todos nós.

É válida a parceria das instituições espíritas com outras religiões, empresas, governo, objetivando a concretização de programas sociais?

Desde que esses entrosamentos ou convênios não nos imponham omitir nossa caracterização espírita, nada impede que possamos fazer parcerias, conveniadas ou não, no sentido de melhor atender os grupos de carentes que, sob diversas necessidades, batem às portas das nossas instituições.

Já que a união fraternal, respeitosa, entre religiosos de bandeiras distintas, ou com instituições públicas ou privadas visando dar atendimento aos mais necessitados, é um ideal para o mundo novo, o que não podemos fazer é perder a coerência.